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    Alalaô

    Velha Guarda Paulistana

    Paulo Valentim cuida de quem guarda a memória do samba

    DIEGO PADGURSCHI
    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    27/02/2017 12h36

    O figurino da Velha Guarda tem que estar alinhado, o equipamento de som deve estar regulado e o ônibus tem que sair no horário certo e o evento. São essas as preocupações que Paulo Valentim tem dentro da escola de samba de seu coração, a Vai-Vai.

    Afinal, como o samba da própria escola canta, se é a Velha Guarda quem tem a memória do samba, Paulo Valentim tem como ofício zelar por ela. Aos 77 anos, mais de 70 vividos dentro do samba, Paulo é hoje o diretor do departamento da Velha Guarda de uma das mais tradicionais escolas de samba do Carnaval paulistano.

    "Se não houvesse a Velha Guarda, as escolas não existiriam. Nela, estão os fundadores da escola, aqueles que se dedicaram, lutaram contra o preconceito, lutaram contra a polícia, contra a repressão, que muitas vezes foram demitidos de seus trabalhos por serem de escola de samba", explica Paulo.

    Paulo não sabe dizer quando entrou para o samba. Lembra-se apenas de seu pai tocando cavaquinho pela casa e nas festas dos amigos. Lembra-se também da mãe cantando com Dalva de Oliveira.

    Diego Padgurschi/Folhapress
    Paulo Valentim, presidente da Velha Guarda da Vai-Vai
    Paulo Valentim, presidente da Velha Guarda da Vai-Vai

    Quando deu por si já estava nas escolas de samba de São Paulo. Passou pela Vai-Vai e pela Camisa Verde e Branco (algo como virar a casaca e, de corintiano passar a ser palmeirense), mas retornou a Vai-Vai.

    Paulo ajudou ainda a abrir espaço para o samba na imprensa paulista. "A sociedade achava que todo mundo que estava no samba era marginal. Hoje é status", comenta ele. E diante de mais um Carnaval, Paulo se diz saudoso do tempo em que a festa era feita próxima ao povo e havia maior senso de comunidade dentro das escolas de samba.

    "As pessoas usavam a fantasia com prazer, orgulho. Hoje, não. Você assiste o desfile no Anhembi e depois da escola passar, você vê montanhas de roupas jogadas".

    Nos tempos de desfile na avenida São João, no centro de São Paulo, Paulo se lembra de gostar de ficar horas após o desfile de sua Vai-Vai conversando e contando piadas com colegas de outras escolas: Peruche, Nenê. Nessas, a farra que começava com o desfile no sábado de Carnaval só acabava na Quarta-feira de Cinzas, quando o sambista finalmente voltava para seu bairro. "Hoje o Anhembi é que nem um curral: Você entra, desfila, sai, já vai pro ônibus e cada um vai parar no seu reduto", lamenta.

    Como representante da Velha Guarda de sua escola, Paulo dá a lição: Para se provar sambista, não basta ter samba no pé, cantar e festejar. "Se você for na serralheria da escola, o sambista está lá. Seja soldando metal, colando adereços, fazendo comida para o povo. Esse é o sambista de verdade".

    Escolas de Samba - SP

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