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    Alalaô

    Piores acidentes em 33 anos põem em xeque desfiles do Sambódromo do Rio

    ITALO NOGUEIRA
    LUIZA FRANCO
    SÉRGIO RANGEL
    DO RIO
    EDUARDO GERAQUE
    PAULO SALDAÑA
    DE SÃO PAULO
    CAROLINA LINHARES
    DE BELO HORIZONTE

    01/03/2017 02h00

    Fernando Frazão/Agência Brasil
    Rio de Janeiro,RJ,Brasil 28.02.2017 - Estrutura de carro alegorico quebrou deixando feridos no desfile da escola de samba Unidos da Tijuca, pelo grupo especial, no Sambodromo (Fernando Frazao/Agencia Brasil) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Ambulância entra no Sambódromo após acidente com carro alegórico da Unidos da Tijuca, no Rio.

    Alegorias criativas, fantasias luxuosas, coreografias e efeitos especiais de um trabalho artístico construído ao longo de um ano foram ofuscados no Carnaval de 2017 na Marquês de Sapucaí pela passagem de ambulâncias.

    Mais do que atrapalhar os desfiles, uma série de acidentes por dois dias seguidos envolvendo carros alegóricos de escolas de samba deixaram ao menos 30 feridos no Sambódromo do Rio, expondo fragilidades e colocando em xeque a segurança e a grandiosidade de um dos principais eventos turísticos do país.

    Dois dos episódios foram classificados pela própria Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) como os mais graves "em 33 anos da existência do sambódromo" e tiveram repercussão na imprensa internacional.

    Num deles, parte do carro alegórico da Unidos da Tijuca desabou, na madrugada de terça (28), derrubando destaques a 6 metros de altura e ferindo ao menos dez pessoas.

    Em outro, um carro desgovernado da Paraíso do Tuiuti atropelou 20 pessoas no domingo (26). Cinco vítimas seguiam internadas no hospital. Maria de Lurdes Maura Ferreira, 58, que fraturou as duas pernas e sofreu traumatismo craniano, respirava com auxílio de aparelhos.

    Na Mocidade Independente de Padre Miguel, a destaque do alto de um carro foi levada ao chão após uma alegoria quebrar. Na União da Ilha, houve perda de controle e direção de carro alegórico —sem feridos, mas deixando assustados foliões quase espremidos nas grades laterais.

    Pesquisadores afirmam que a sequência de acidentes é um marco no atual modelo de grandes carros alegóricos, que surgiu nos anos 1980.

    "Seria o momento de rever esse conceito de gigantismo do Carnaval do Rio. A insegurança está muito ligada a isso. Num Carnaval excessivamente caro, e as escolas tentando manter esse luxo demasiado, às vezes negligenciam em outros setores", diz o historiador Luiz Antônio Simas.

    De outro lado, carnavalescos passaram a cobrar mudanças no sambódromo.

    "Não é um lugar seguro. A entrada na concentração é arriscada, a dispersão é especialmente perigosa porque a população tem acesso. As escolas podem até estar exagerando no tamanho, mas os acidentes não foram causados por isso", afirmou o diretor de Carnaval da União da Ilha, Wilsinho Neves.

    NOVAS REGRAS

    Após os acidentes, o Inmetro (instituto de metrologia) anunciou a criação para 2018 de regras de certificação e fiscalização dos carros alegóricos —válidas não só no Rio, mas no país todo. "Vamos montar uma regulação para ter carros certificados e inspeção", disse Carlos Augusto de Azevedo, presidente do órgão.

    A delegada Aparecida Mallet, que investiga os acidentes na Sapucaí, disse que há suspeita de excesso de peso no carro da Unidos da Tijuca.

    Em nota, a escola afirmou que presta "assistência" às vítimas. Já a Paraíso do Tuiuti declarou que "se comprometeu a arcar com todos os custos da reabilitação".

    A Liesa afirmou "que se reunirá com todas as agremiações para realizar ajustes".

    Um dos feridos no acidente da Unidos da Tijuca, Ricardo Cardoso Júnior disse que integrantes do grupo coreográfico relataram nos ensaios que um carro alegórico "balançava bastante". "Passamos isso [a dirigentes], mas nos disseram que era seguro."

    Pelas regras da Liesa, é atribuição das agremiações evitar acidentes. As escolas têm engenheiros que são os responsáveis técnicos pelas alegorias. O Corpo de Bombeiros faz vistoria nos carros até uma semana antes, bem como a uma hora do desfile.

    O carnavalesco da Imperatriz, Cahê Rodrigues, considera que houve um divisor de águas. O momento crucial, diz, é a construção do chassi.

    "Os carros têm que passar por vistoria redobrada nessa etapa, pois, depois que a estrutura é montada e o carro é decorado, ele fica camuflado, e é mais difícil notar defeitos."

    O sambista e cantor Thobias da Vai-Vai, dirigente da escola paulistana, afirma que os acidentes deverão ter impacto no Carnaval de SP.

    O presidente da Riotur, Marcelo Alves, diz que os acidentes não afetam a imagem da cidade. O vice-presidente executivo da Associação dos Embaixadores de Turismo do Rio, Bayard Boiteux, discorda.

    "Vai demandar uma campanha promocional rápida em prol da imagem do Rio ou, pelo menos, uma campanha de esclarecimento", diz. "Passaria despercebido pelo turista internacional se não fossem as reportagens de veículos estrangeiros".

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