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    Teste de qualidade encontra falha na propaganda de marcas de kits berço

    FERNANDA MENA
    DE SÃO PAULO

    07/03/2017 02h00

    Mais caro, o tecido 100% algodão é macio e absorvente, ideal para bebês. Talvez por isso as 20 marcas de kit berço testadas pelo Ipem-SP (Instituto de Pesos e Medidas de SP) ostentassem etiquetas que identificavam seu produto como tal, ainda que apenas quatro delas (20% das marcas do mercado paulista), de fato, fossem confeccionadas com essas fibras naturais.

    As 16 marcas restantes de kit berço –conjunto de lençóis, almofadas e peças acolchoadas para forrar a cama de bebês– apresentavam tecidos mesclados de algodão e poliéster, em alguns casos na proporção de quase meio a meio.

    Divulgação
    Kit berço da marca Paulinha Baby, reprovada em teste de 100% algodão
    Kit berço da marca Paulinha Baby, reprovada em teste para aferir se produtos têm 100% de algodão

    O poliéster é um tecido sintético, da família dos plásticos. Mesclado ao algodão, compõe tecidos que amassam menos e tendem a ser mais resistentes, mas são menos absorventes e abafam a pele, favorecendo a transpiração. O problema, segundo o Ipem, não é o uso desse tipo de tecido, permitido para produtos infantis, mas a identificação do produto como sendo outro, 100% algodão.

    "Os pais não podem achar que compraram tecidos 100% algodão, e pagar por isso, mas levar outro tecido, mais barato, para casa", diz o diretor de fiscalização da qualidade do Ipem, Oswaldo Alves Ferreira Junior. "Isso aumenta a margem de lucro das empresas e deixa os pais desinformados", afirma.

    Segundo ele, por ser um material isolante, o poliéster faz o bebê suar mais e pode causar alergias. "Os pais podem tratar uma alergia de maneira inadequada porque ninguém desconfia que ela está sendo causada pela fibra dos lençóis do bebê, supostamente 100% algodão. Pais precisam saber o que estão comprando para seus bebês. É questão de saúde pública."

    Segundo Ana Lúcia Goulart, professora do Departamento de Pediatria da Unifesp, quanto mais sintético o tecido, mais o bebê transpira. "Por isso, este tipo de tecido pode favorecer o surgimento de brotoejas e dermatites de contato", diz ela, para quem o tecido sintético também pode agravar alergias. "O algodão é mais inerte."

    De acordo com o Ipem, as empresas cujos produtos estavam irregulares foram autuadas e terão dez dias para fazer sua defesa, além de terem sido notificadas para que corrijam as etiquetas dos kits berço. "Elas precisam atuar adequadamente em relação ao consumidor e a seus concorrentes", diz o diretor.

    100% SÓ QUE NÃO - Teste reprova 80% das marcas de Kit berço que se dizem ser 100% algodão

    DECORAÇÃO PERIGOSA

    O apelo decorativo de peças bordadas e coloridas, com almofadas de formatos diversos, é inegável para muitos pais, assim como a ideia de que o kit berço protege o bebê de choques e de prender perninhas e bracinhos entre as grades.

    A pediatra Ana Lúcia Goulart afirma, no entanto, que o uso desse aparato na cama dos bebês não é recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria. "São objetos decorativos que vão além da inutilidade. São perigosos."

    Segundo Goulart, as peças não têm utilidade prática e ainda podem provocar asfixia e sufocamentos nos bebês menores, que podem se enroscar em partes do kit, se mover para debaixo de um travesseiro ou almofada ou se aproximar demais das cabeceiras e laterais amarradas no gradeado do berço.

    O berço seguro, afirma a pediatra, não deve ter nada dentro dele, preso ou solto, além do lençol que cobre o colchão e do bebê. "Isso é o mais importante."

    ANÚNCIO DE AJUSTE

    Apenas 20% das marcas de kit berço encontradas pelo Ipem-SP no mercado paulista eram confeccionadas com tecido 100% algodão como descrevia sua etiqueta; as 80% restantes estavam irregulares e usavam tecidos mesclados apesar de indicarem o contrário.

    Todas as 16 marcas que apresentaram irregularidade na identificação da matéria-prima foram procuradas pela Folha para que se manifestassem sobre o resultado do teste, mas apenas sete enviaram notas sobre o caso.

    A Medina informou que está verificando as irregularidades apontadas entre etiqueta e composição dos produtos e que fará as alterações o mais rápido possível.

    Em nota, a Sonho Encantado informou que mesmo antes da notificação já está verificando todos os produtos do lote testado e alega que, "se houve realmente o problema", foi algo "pontual".

    FALHA

    A Kannon Baby informou que houve falha na identificação do produto devido a uma mudança na linha de produção e que retirou o lote irregular do mercado.

    A Juna Baby informou ter havido "má interpretação do que consiste um kit ser 100% algodão" e disse estar recolhendo os produtos nas lojas.

    A Din Don e a 4R Baby, ambas pertencentes à Bordados 4R, e a Surukinha alegaram não terem sido ainda notificadas pelo Ipem, o que aguardavam para poderem averiguar o resultado e se manifestar.

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