• Cotidiano

    Thursday, 02-May-2024 00:32:41 -03

    Rio de Janeiro

    Com ação de milícias, crescem furtos de combustíveis em dutos da Petrobras

    NICOLA PAMPLONA
    DO RIO

    10/03/2017 17h17

    Divulgação/Cetesb
    Criminosos tentam furtar nafta de tubulação da Petrobras na zona leste de São Paulo
    Criminosos tentam furtar nafta de tubulação da Petrobras na zona leste de São Paulo

    Furtos de petróleo de combustíveis em dutos da Petrobras dispararam em 2016 em todo o país, o que provocou uma mobilização da empresa e de autoridades para desmobilizar quadrilhas especializadas. No Rio, esses grupos protagonizam uma guerra sangrenta pelo controle da atividade.

    No ano passado, foram 73 ocorrências, uma média de mais de quatro por mês, contra apenas 14 em 2015 e apenas uma em 2014. Além do prejuízo financeiro, o furto em tubulações gera riscos de vazamentos e explosões.

    Segundo o titular da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, Giniton Lages, as quadrilhas do Rio agem em parceria com refinarias clandestinas localizadas em São Paulo, que transformam o petróleo roubado em combustíveis.

    Uma delas foi descoberta pela polícia de São Paulo em dezembro, na cidade de Boituva. Na operação, 11 pessoas foram detidas e depois liberadas por falta de flagrante.

    O delegado comanda as investigações sobre mortes relacionadas à briga pelo controle da atividade. Em 2016, foram pelo menos três casos, todos envolvendo candidatos a vereador em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, onde está uma das maiores refinarias da Petrobras.

    Segundo as investigações, Leandro da Silva Lopes, 38, Sérgio da Conceição de Almeida, e Denivaldo Meireles da Silva foram mortos por envolvimento com milícias que descobriram no furto de combustíveis uma maneira de obter lucros fáceis.

    BICAS

    O crime é realizado, geralmente, em propriedades próximas às faixas de dutos da estatal e, de acordo com o delegado, conta com o apoio de técnicos especializados para abrir "bicas" –espécie de torneiras– nas tubulações.

    Para não despertar suspeitas, as operações costumam ser realizadas durante a noite: caminhões-tanque entram nas propriedades e são abastecidos com os combustíveis furtados por meio de mangueiras, deixando o local antes do início do dia.

    A equipe do delegado Lages estourou em 2016 cinco "bicas" em Duque de Caxias. Considerando o abastecimento de três caminhões por noite, ele estima que cada uma poderia render um lucro anual de ao menos R$ 30 milhões.

    Para as autoridades, o crescimento deste tipo de crime está ligado à crise econômica e a demissões na estatal, que jogaram no mercado profissionais capazes de abrir "bicas" nas tubulações.

    De acordo com informações da estatal, a grande maioria dos casos ocorreu no Rio e em São Paulo, Estados que concentram parte significativa dos cerca de 6.000 km de dutos que transportam petróleo e combustíveis no país.

    A empresa criou no fim do mês passado uma linha direta de denúncias sobre este tipo de crime e quer incentivar a população a entrar em contato quando perceber movimentações atípicas perto das tubulações, seja com caminhões, seja com pessoal sem uniformes. Segundo a Petrobras, o objetivo é "evitar ações de pessoas não autorizadas em suas instalações, o que traz risco de incêndio e até mesmo explosão".

    Em outubro, 53 moradores da Vila Jacuí, na zona leste de São Paulo, tiveram que ser removidos de suas casas após um vazamento de nafta provocado pela tentativa de abrir uma bica em duto que passava pela região. "É fundamental que os moradores vizinhos às instalações contribuam com a empresa, seja no envio de críticas, sugestões ou comunicando qualquer movimentação suspeita na faixa de dutos ou em terrenos próximos", diz a estatal.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024