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    Disputa pelo tradicional e endividado Jockey de SP tem ex-STF e vice da Fiesp

    GIBA BERGAMIM JR.
    DE SÃO PAULO

    14/03/2017 02h00

    Boris do Jaguarete, Béjart e Olympic Fluke arrancaram pelo gramado para chegar à frente na linha final após os 2.400 metros da prova principal do Jockey Club de São Paulo no sábado passado (11).

    Foi uma das últimas disputas entre cavalos no hipódromo paulistano antes de um outro páreo bem mais decisivo, que definirá o futuro político da instituição no mesmo dia em que completa 142 anos, nesta terça-feira (14).

    Em vez dos musculosos animais de raça, perfilam-se agora dois grupos de 19 senhores da elite paulistana entre eles empresários, advogados e um ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) na luta para ver quem toma as rédeas da entidade.

    Terão pela frente missão que vai muito além de preparar puros sangue que chegam a custar R$ 1 milhão para vencer. Vão correr para dar fim a pelo menos R$ 190 milhões em dívidas tributárias, R$ 27 milhões em pendências trabalhistas, além de negociar com funcionários prestes a fazerem greve e reverter a redução do número de cavalos nas competições.

    Oposição ou situação, eles têm em comum a proposta de modernizar a administração, dando ao Jockey uma cara de empresa, com conselho de diretores e um CEO.

    Numa raia está a chapa de conselheiros Jockey do Futuro, que tem como cotados para a presidência os empresários Benjamin Steinbruch diretor-presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias de SP) e colunista da Folha e Alessandro Arcangeli, da área de autopeças.

    Na outra, a Jockey Club, que inclui o atual presidente, Eduardo da Rocha Azevedo (que comandou a Bolsa de Valores de SP), o atual vice, o empresário Ricardo Vidigal Monteiro de Barros, e o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Eros Grau os dois últimos cotados para a presidência, cuja escolha cabe ao grupo vencedor.

    Pelo novo estatuto, um terço do conselho do Jockey tem de ser renovado a cada ano.

    Os nomes reconhecidos das áreas econômica e jurídica terão também que resolver a dívida com prêmios não pagos.

    Segundo balanço da atual administração, há pelo menos R$ 10 milhões acumulados que deveriam estar nos bolsos dos ganhadores que abatem a pendência com descontos no aluguel das cocheiras.

    Entre os credores de prêmios está até o atual presidente. "Meu único compromisso quando assumi em 2011 foi pagar dívidas. Fico contente que alguns integrantes da oposição me criticam por pagar imposto. Quando cheguei aqui, o caixa e a maioria dos imóveis do Jockey estavam penhorados", disse Azevedo.

    Segundo ele, não fossem as negociações, as dívidas já estariam em cerca de R$ 900 milhões, o equivalente à metade da estimativa do patrimônio do Jockey na avaliação da direção, algo em torno de R$ 2 bilhões.
    "Hoje o caixa está liberado e temos condições de falar em igualdade de condições com a prefeitura. O Jockey não está abandonado", afirma.

    Parte da dívida (R$ 80 milhões) foi abatida na gestão do prefeito Fernando Haddad (PT), quando a Chácara do Jockey, na Vila Sônia (zona oeste), foi desapropriada ainda há disputa na Justiça sobre isso, já que um perito judicial avaliou a área em cerca de R$ 190 milhões.

    Já a oposição diz que falta aos mandatários atuais gestão e profissionalização.

    "O clube não gera receita. A área de turfe já é quase zero e a área de eventos está largada", disse o empresário Marcelo Arthur Motta Ramos Marques, integrante da chapa oposicionista. "Nossa chapa terá gente de expressão, um pessoal mais focado no profissionalismo, são todos empresários bem-sucedidos".

    Ele faz parte de um grupo que contesta os valores da dívida apontada por auditoria.

    Eventos grandes como o Lollapalooza costumam atrair renda, mas geram irritação de moradores do entorno e estressam os cavalos que descansam nas cocheiras.

    Os cenários de glamour do passado quando o esporte era tão reconhecido que havia jornalistas incumbidos de cobrir corridas e treinamentos e de derrocada financeira ainda se misturam durante uma caminhada pelo Jockey. Novos restaurantes e cafés contrastam com mobiliário antigo e por vezes deteriorado de algumas áreas.

    Enquanto sócios desfilam nas áreas sociais nos eventos da alta sociedade paulistana, nas áreas de apostas, porém, o ar sofisticado dá espaço a pessoas simples –muitos são idosos e aposentados– que fazem suas modestas apostas ao preço mínimo de R$ 3.

    O espaço já está na mira do prefeito João Doria (PSDB), que defende a criação de um museu de biodiversidade, com apoio de empresários que poderiam construir até duas torres na área.

    Cerca de 500 sócios estão em condições de definir o futuro do Jockey, mas a previsão é que até 300 participem. Apostas serão deixadas de lado. A briga agora é no voto.

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