• Cotidiano

    Wednesday, 01-May-2024 20:20:53 -03

    Para evitar crimes, comércio contrata empresa ligada a 'Bolsonaro de Paraty'

    LEANDRO MACHADO
    ENVIADO ESPECIAL A PARATY

    16/03/2017 02h00

    Em meio a uma onda de violência e com policiamento precário, moradores e comerciantes de Paraty, no litoral fluminense, têm recorrido a empresas de segurança privada –inclusive uma ligada ao secretário responsável pela guarda civil da cidade.

    Boa parte das lojas do centro histórico do município exibe em sua fachada um adesivo da empresa BM Monitoramento. Segundo moradores e comerciantes ouvidos pela Folha, a empresa é controlada por Almir Botelho, secretário municipal de Segurança e Ordem Pública e tenente da Polícia Militar do Rio.

    Em diferentes dias da semana passada, cinco moradores da cidade disseram pagar R$ 400 de mensalidade para a empresa –a reportagem teve acesso a boleto que comprova esse pagamento.

    Eles afirmaram que negociam esse serviço particular de segurança diretamente com Botelho, por telefone e pessoalmente. Ele, que diz adotar um estilo semelhante ao do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), nega.
    Por medo de represálias, os comerciantes pediram que seus nomes não fossem revelados nesta reportagem.

    O município de 40 mil habitantes que abriga a Flip –maior festa literária do país– tem vivido sérios problemas de violência: maior índice de assassinatos do Estado do Rio de Janeiro, disputa pelo tráfico, onda de furtos e uma greve da Polícia Civil que já dura quase dois meses.

    No Carnaval, William de Azevedo, 30, foi decapitado na frente de moradores da Ilha das Cobras, favela que tem território controlado por uma facção criminosa. Ele foi acusado de ter beijado a namorada de um traficante –a mulher foi espancada e teve seus cabelos raspados.

    O monitoramento da empresa BM é feito por câmeras e vigilantes particulares, que visitam os estabelecimentos caso haja algum problema com segurança –eles são acionados por um alarme.

    O adesivo da empresa, colado nas fachadas, já ajuda na proteção, afirmam comerciantes. "Se você coloca o adesivo da BM na porta, dificilmente será roubado", afirmou um comerciante do centro histórico de Paraty.

    Oficialmente, a BM está registrada na Junta Comercial em nome de Odete Bonifacia da Conceição, mãe de Marcos Tavares –ex-policial militar, amigo do secretário e que se diz proprietário da empresa.

    A PM-RJ proíbe que policiais –como Botelho, que é tenente– tenham empresas de segurança. Marcos Tavares nega a associação da BM ao ex-colega de farda e diz que as letras que dão nome à firma não são combinação de "B" de Botelho com "M" de Marcos.

    "A letra B é de Bonifacia, sobrenome da minha mãe. Não quisemos colocar 'O' [de Odete, primeiro nome]. O Botelho já trabalhou aqui por alguns anos, mas foi demitido por mim", afirmou à Folha.

    'BOLSONARO'

    Almir Botelho assumiu a Secretaria de Segurança e Ordem Pública de Paraty em fevereiro de 2016, a convite do prefeito Carlos José Gama Miranda –o Casé (PMDB).

    Ele admite ser amigo de Marcos Tavares e diz que trabalhou por anos na BM ao mesmo tempo em que atuava como PM do Estado. No entanto, nega que atualmente faça parte da empresa.

    "Não posso ser dono de empresa. Não faço mais parte. É uma acusação da oposição. A gente gera inveja, hoje falo diretamente com o secretário [de Segurança Pública] do Rio. Isso é coisa de gente que não gosta do meu trabalho", disse Botelho.

    Ele continua: "É que aqui em Paraty, você fala Botelho e os vagabundos todos têm medo. Sou um policial de respeito, não tem acordo com vagabundo, não. Sou um Bolsonaro na vida, não mexam comigo", disse o secretário.

    Questionada pela reportagem, a Prefeitura de Paraty afirmou, em nota, que "desconhece" alguma atuação do secretário que não seja na administração municipal.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024