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    Dia Mundial da Água

    'Seguimos no limite', diz especialista em crise hídrica sobre represas de SP

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    22/03/2017 02h00

    Luis Moura/WPP/Folhapress
    Vista represa jaguari-jacarei reserva que compoe o Sistema Cantareira, em joanopolis no interioe de Sao Paulo, nesta terca-feira (02), opera em queda de 0.1% de ontem pra hoje. Segundo a compania de aguas do Estado de Sao Paulo (Sabesp), o sistema opera hoje com 46,7% (indice 3). ( Foto : Luis Moura / WPP). *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
    Represa Jaguari-Jacareí, que compõe o Sistema Cantareira, em Joanópolis, no interior de São Paulo

    Em vez de ficar flertando com o fundo vazio das represas, a gestão de água em São Paulo precisa melhorar de nível, diz o biólogo Samuel Barreto, especialista em recursos hídricos da ONG The Nature Conservancy no Brasil.

    Para Barreto, essa seria uma grande lição da crise hídrica paulista, a ser lembrada hoje (22), Dia Mundial da Água, e daqui pra frente.

    "O Brasil precisa mudar de patamar, assim como fez a Austrália, depois da severa crise hídrica que ela viveu entre o fim dos anos 1990 e primeira década deste século."

    No caso paulista, o abastecimento de água da região metropolitana entrou em colapso entre 2014 e 2015. No fim de janeiro de 2015, o sistema Cantareira registrou só 3,9% da sua capacidade.

    Apesar dos esforços do governo estadual e da mobilização da população, a inesperada chuva acima da média de fevereiro de 2015 foi decisiva para evitar o rodízio.

    A experiência australiana, esmiuçada por Barreto e vários estudos internacionais, deixa dois pontos centrais como alertas para o futuro.

    "É importante que a gestão hídrica seja uma política de Estado, independentemente dos governos", afirma.

    Na Austrália, a atual política de recursos hídricos prevê uma série de gatilhos para que ações de redução da oferta de água sejam deflagradas em áreas mais suscetíveis à seca.

    O estado de emergência, o pior entre os cinco previstos na lei, entra em funcionamento quando a represa atingir 25% da sua capacidade.

    "Outro ponto fundamental adotado lá é poder responsabilizar legalmente os gestores que não administrarem corretamente os recursos hídricos", diz o biólogo.

    Todas as análises internacionais, que englobam também o caso da Califórnia, mostram que não existe saída que não seja coletiva. Governo, usuários e sociedade civil organizada precisam entender o problema para um trabalho em sintonia.

    Em São Paulo, de acordo com Barreto, "o governo teve papel importante, mas a mobilização da sociedade [que consumiu menos água] não foi desprezível".

    Considerando que a fase aguda da crise hídrica está superada, o biólogo não descarta a possibilidade da estiagem voltar a atingir os paulistas no médio prazo, algo como cinco ou seis anos.

    "Nós continuamos no limite da oferta e da demanda. Não temos reserva", diz Barreto. Na contabilidade do especialista, é como se houvesse um orçamento de R$ 100 para um gasto de R$ 97.

    "O risco é grande. A chance de estourar o limite está sempre presente", afirma.

    Uma gestão mais moderna dos recursos hídricos não pode se concentrar apenas no aumento da oferta.

    "A gente bateu na trave, com a bola quicando sobre a linha do gol. Havia um plano B para sustentar o consumo de 5 milhões de pessoas?", pergunta Barreto, caso o Cantareira tivesse secado.

    "Só estamos em situação confortável porque choveu muito acima da média em fevereiro de 2015".

    Mobilizar a população e olhar além dos mananciais são ações essenciais, segundo mostram os estudos. "Quase 70% das matas das represas precisam ser recuperadas. Não podemos perder os 30% que ainda existe."

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