Edna ao piano

Depois que morreu Edmur Pimentel, há duas décadas, Edna, sua mulher, disse que não tocaria mais piano. Abalada que ficou pela perda do companheiro, com quem estava havia 63 anos, dizia que não tinha mais razão para tocar o instrumento que lhe deu tanta alegria. Sorte da família que a matriarca quebraria a promessa depois –aos 103.

Entrou na música ainda na infância, em Amparo (SP). Seu pai, ligado às artes, determinou que os 14 filhos aprendessem algum instrumento, e Edna foi estudar piano no conservatório de Campinas.

Casada, acompanhou o marido, médico, na recém-inaugurada Vera Cruz, nos anos 1940. Tornou-se enfermeira quase que na marra: foi a única pessoa que não desmaiou enquanto Edmur operava um homem baleado.

Mudou-se para São Paulo no começo dos anos 1960, onde, católica devota, trabalhou pela catequização de jovens e crianças e deu aulas de piano.

Há três anos, sua filha Marina tentou convencê-la a voltar à música –queria documentar uma valsa que a mãe compôs para Edmur e da qual não havia registro. Aí não parou mais: tocava todos os dias "Fascinação", sua preferida, para deleite da família.

Tinha saúde excepcional para a idade, conta Marina. Foi internada pela primeira vez em 30 anos só em julho do ano passado, já aos 104. Mas não contava vantagem, diz a filha: "Nunca vi minha mãe se gabando de nada".

Morreu no último dia 20, aos 105, deixando quatro filhos, 11 netos e 12 bisnetos.

A missa de sétimo dia acontece neste sábado (25), às 18h, na paróquia N. Sra. do Carmo, em São Paulo.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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