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    Aplicativos espionam mensagens nas redes sociais e conteúdo de conversas

    TATIANA CAVALCANTI
    DO "AGORA"

    27/03/2017 16h39

    Robson Ventura/Folhapress
    Motorista de Uber mostra celular no qual namorada instalou aplicativo espião; ele descobriu e passou a deixar telefone em casa
    Motorista de Uber mostra celular no qual namorada instalou aplicativo espião

    É cada vez mais comum observar na internet ofertas de aplicativos, gratuitos e pagos, que prometem espionar o celular de namorados, maridos, mulheres e filhos, entre outros. Mas instalar programas no aparelho de outra pessoa, sem sua autorização, é crime, com pena de três meses a um ano de prisão ou multa, segundo a Lei Carolina Dieckmann.

    "Essa ação configura crime de invasão de dispositivo", disse o delegado José Mariano de Araújo Filho, titular da 4ª Delegacia de Investigações sobre Crimes Cometidos por Meios Eletrônicos do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).

    Alguns programas são mais simples, como localizadores, para saber onde uma pessoa ou até um aparelho roubado está. Mas outros mais modernos conseguem permitir acompanhar trocas de mensagens em redes sociais, como Facebook, de e-mails e até do WhatsApp. Também é possível escutar conversas do celular espionado. Alguns deles podem ser instalados no Google Play e Apple Store.

    Segundo o especialista em segurança da internet Ricardo Giorgi, professor de MBA da faculdade de tecnologia da Fiap, os aplicativos só podem ser instalados com o celular do espiado em mãos. "É preciso desbloquear a senha e baixar o programa. O ícone do espião fica invisível e a vítima nunca saberá que está sendo vigiada".

    Para o advogado e especialista em crimes digitais Newton Dias a falta de boletins de ocorrência denunciando essas invasões cibernéticas permitem a proliferação da oferta desses aplicativos. "As pessoas deixam de denunciar ou porque não descobrem que estão sendo espionadas ou por vergonha."

    PROGRAMA NO CELULAR

    Certa noite, o motorista de Uber Joaquim (nome fictício), 45 anos, resolveu dizer à namorada que ia sair, mas não disse que ia para uma danceteria com amigos.

    "Quando estava lá com meus amigos, meu celular tocou. Atendi e disse que estava na rua. Mas ela insinuou que eu não estava e ficou brava. Achei estranha a atitude dela e suspeitei que ela estivesse me espionando".

    Joaquim decidiu buscar aplicativos estranhos em seu celular e encontrou um aplicativo bisbilhoteiro.

    "Decidi não falar nada pra ela por um mês. À noite ligava pra ela para dizer boa noite. Deixava o celular em casa e saía com os amigos para dançar e comer churrasco. Ela nunca desconfiou. Achou que estivesse dormindo", afirmou a vítima.

    Um mês depois, Joaquim decidiu revelar a verdade. Eles continuam juntos.

    DETETIVES DISCORDAM

    A detetive particular Daniele Martins, 30, conta que por R$ 4.000, desbloqueia o celular e, em três horas, instala um programa espião no aparelho que pode jamais ser descoberto.

    "É possível acessar todas as informações da pessoa amada e até ligações. Tudo isso é possível a partir do login de outro computador. Esses aplicativos da internet são perigosos porque podem conter vírus", disse a detetive, que instala, por mês, programas sentinelas em cerca de 25 aparelhos.

    Quanto ao crime, diz que se protege fazendo o cliente assinar um contrato.

    O detetive particular Marco Aurélio discorda da prática. "Tudo que é ilegal, é imoral. Há meios legais para se espionar uma pessoa, como segui-la ou fazer campana. Depende do caso, mas pode custar de R$ 1.000 a R$ 10.000".

    SENHA DIFÍCIL

    A primeira coisa que uma pessoa que desconfia estar sendo vigiada deve fazer é salvar todas as informações e levar o aparelho a uma autorizada para ser formatado e reconfigurado como de fábrica. "Não adianta formatar em casa, é preciso de ajuda especializada", disse Marcelo Lau, coordenador da Fiap.

    Outras dicas do professor são usar senhas difíceis, que misturem letras, números e símbolos."'Ter um antivírus atualizado é primordial".

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