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    Com oração e sem 'ponto de estresse', agência vende 'férias cristãs na Disney'

    ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
    DE SÃO PAULO

    28/03/2017 02h00 - Atualizado às 16h36
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    Eduardo Anizelli/Folhapress
    Marcelo Rebello, idealizador da Gospel Tur, com a família
    Marcelo Rebello, idealizador da Gospel Tur, com a família

    Vá à Disney. Mas vá com Deus. É a premissa da Gospel Tur, agência criada para promover o turismo cristão nos parques de Mickey Mouse.

    Os pacotes, ainda sem preço e previstos para começar em janeiro de 2018, preveem monitoramento 24h por guias evangélicos, pausas para oração e quartos separados para meninos e meninas, diz, Marcelo Rebello, dono da Tur.

    Ele programa ainda estratégias para desviar de "pontos de estresse nos passeios". As polêmicas não são poucas em se tratando da relação entre Disney e evangélicos.

    "Tem umas lendas rolando na internet, do tipo 'o Mickey é um personagem gay'... Como assim, se ele namora a Minnie? Seria bi? Muita fumaça para pouco fogo!" (Rebello diz não duvidar da heterossexualidade do ratinho.)

    Grupos religiosos reagiram com fúria quando a Disney exibiu seu primeiro beijo gay, na série "Star Vs. As Forças do Mal", em fevereiro. Na cena, vários casais se beijam no show de uma boy band –um deles com dois homens. Outro desconforto: na versão com atores de "A Bela e a Fera", o personagem LeFou tem uma quedinha pelo vilão Gaston.

    No Brasil, o pastor Silas Malafaia defendeu boicote ao conglomerado, pela "aberração de erotizar crianças através do 'homossexualismo'". Rebello diminui a polêmica: "Em vez de boicotar, preferimos incentivar que os jovens conheçam a Disney, se divirtam, analisem o que é bom e ruim e retenham o que é bom".

    Evangélicos se dividem sobre o legado da marca. Alguns veem simbolismo cristão em "Branca de Neve", exceção ao mostrar uma princesa orando. Com o retorno de Simba ao reino, "O Rei Leão" já foi visto como versão animal da parábola do filho pródigo.

    Já "A Princesa e o Sapo", que traz a primeira mocinha negra da Disney, levantou críticas ao incorporar elementos do vudu, religião tida como diabólica no meio.

    A religiosidade de Walt Disney (1901-1966) também é controversa. Ele se dizia cristão, mas, segundo biógrafos, era cético e pouco afeito a igrejas. "Walt insistia que qualquer retrato estreito do cristianismo (ou qualquer outra religião) nos filmes era veneno para bilheterias", diz artigo de 2010 do "Wall Street Journal".

    A Bíblia inspira o slogan das caravanas da Gospel Tur: "Férias Cristãs com a Tia Sara". A personagem fictícia compartilha o nome com a mulher de Abraão. "Tem origem no conceito de maternidade. É muito mais tranquilo para os pais saber que seus filhos não estão soltos por aí", afirma Rebello.

    Alguns "pontos de estresse" a ser evitados na viagem: "Adolescentes se agarrando no avião, atividades que façam apologia a sexo e drogas e personagens que incitem violência". Tia Sara estará de olho.

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