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    Após tumulto, moradores de ocupação de Campinas deixam terreno invadido

    MARTHA ALVES
    SIDNEY GONÇALVES DO CARMO
    DE SÃO PAULO

    28/03/2017 03h44 - Atualizado às 16h49

    Victor Moriyama/Folhapress
    Moradores da ocupação Mandela no bairro Jd. Capivari, em Campinas, fazem vigília na madrugada enquanto aguardam a reintegração de posse do terreno
    Famílias da ocupação Nelson Mandela, em Campinas, durante vigília no terreno ocupado

    As famílias da ocupação Nelson Mandela, na região do Jardim Capivari, em Campinas (a 93 km de São Paulo), começaram a deixar o terreno na manhã desta terça-feira (28) após uma vigília feita na madrugada contra a reintegração de posse.

    Com a presença do oficial de Justiça, a polícia chegou pela manhã para acompanhar a intimação das famílias e a retirada dos pertences do local. Por volta das 7h30, os moradores montaram barricadas e atearam fogo para impedir o trabalho da polícia.

    Houve um princípio de tumulto, mas a situação logo foi controlada. Em seguida, as famílias começaram a retirar seus pertences e a deixar o terreno ocupado, que está localizado na rua André de Campos Souza.

    O terreno particular, de cem mil metros quadrados, foi ocupado pelas famílias de sem-teto há cerca de dez meses. Segundo os moradores, a área está abandonada há 40 anos e servia de local para desova, estupro e tráfico de drogas.

    Segundo os sem-teto, a maioria das pessoas que se mudou para o local ficou desempregada e sem condições financeiras de pagar o aluguel. A dona de casa Célia Maria dos Santos, 48, uma das lideranças do grupo, foi uma das primeiras moradoras do local. Ela disse que ficou desempregada e se mudou para o local após ter sido despejada da casa onde morava.

    "Com a crise e todo mundo desempregado em Campinas, foi chegando o pessoal. Chegou a ter 800 barracos, mas hoje moram 649 famílias", disse Célia. As duas filhas dela, que são casadas e estão desempregadas, também têm barracos no local.

    Célia Maria dos Santos disse que há cerca de um mês a coordenação da ocupação e o advogado foram chamados para uma reunião e avisados que a reintegração ocorreria até o final deste mês. "A data ficou sigilosa até o momento que saiu por volta das 20h que ia ter a reintegração de posse", falou.

    Os moradores da Nelson Mandela reclamam que nenhum conselheiro tutelar ou funcionário do Serviço Social da prefeitura foi ao local para falar sobre novas acomodações para os moradores. Segundo eles, atualmente vivem 649 famílias na ocupação, dos quais 423 crianças e adolescentes.

    O secretário de Relações Institucionais, Wanderley de Almeida, afirmou que a administração municipal tentou negociar com o dono do terreno para que não fosse retomado, mas sem sucesso. "Dialogamos diversas vezes com os moradores, com o proprietário do terreno, mas não conseguimos negociar."

    Célia falou que por várias vezes os moradores tentaram falar com o prefeito de Campinas, Jonas Donizete (PSB), mas eles nunca foram recebidos. "O caso também chegou ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) que respondeu que não tinha o que fazer", falou a liderança.

    O secretário Wanderley de Almeida afirmou que a prefeitura cadastrou cerca de 450 famílias que serão avaliadas e enquadradas em algum programa de habitação –desde de que as famílias se enquadram nos critérios de cada programa.

    Segundo Almeida, a prefeitura de Campinas tem parcerias com os governos federal, no programa Minha Casa, Minha Vida, estadual, no programa Casa Paulista, além dos lotes urbanizados da própria administração. "Os programas são para famílias que são enquadram nos critérios desses programas. Quem já tem moradia própria não tem como dar sequência ao cadastro. A cidade lançou o programa de lotes urbanizados e vai apontar os caminhos para a ocupação."

    O secretário disse ainda que a prefeitura de Campinas tem uma fila de espera por moradia de cerca de 36 mil pessoas, incluindo as cerca de 450 famílias da ocupação Nelson Mandela. "Nós não temos espaço público para abrigar o contingente de pessoas da ocupação, mas estamos abertos para minimizar e solucionar os problemas de moradia".

    Sobre a retirada dos moradores, Almeida afirmou que o dono do terreno ficou responsável por fornecer caminhões e equipamentos para que as famílias pudessem deixar o local. O secretário afirmou que será realizada uma reunião nesta quarta (29) com as secretarias para definir as estratégias e diálogo com as famílias.

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