A vez em que perdeu a hora do voo, a companhia arranjou outro piloto e o avião se acidentou. Ou os pousos de emergência que fez em lugares improváveis, por falta de combustível ou falha técnica.

Se tinha uma coisa que Adhemar Arnez Domingues gostava era de contar histórias dos tempos de piloto, função que exerceu entre as décadas de 1940 e 1960.

Uma de suas preferidas era sobre os quatro meses que passou nos Estados Unidos porque estourou a Revolução Cubana, em 1959. Ele tinha ido ao país buscar uma aeronave comprada pela companhia aérea, mas não conseguiu voltar: os aeroportos de países da América Central, onde precisaria fazer escala, estavam fechados, conta sua filha, Ligia.

Voar era tão importante para o Comandante Adhemar, como era chamado pelos amigos, que conheceu Hortência, a primeira mulher, em um voo entre São Paulo e Rio –ela era aeromoça da Real, companhia aérea para a qual o piloto também trabalhava.

"Meu pai voltava para casa a cada três, quatro dias, era um evento. Ele chegava de quepe e uniforme. E sempre com alguma coisa nas mãos, como frutas típicas dos lugares de onde vinha", diz Ligia.

"Era tudo diferente. Nas férias, enquanto minhas amigas iam para a fazenda ou para a casa de praia, meu pai levava a gente para Tóquio", conta.

Bem humorado, era tão querido por todos que os colegas criaram a Caca: Confraria dos Amigos do Comandante Adhemar, lembra-se a filha.

Internado por insuficiência respiratória, morreu no último dia 23, aos 91. Deixa dois filhos, a mulher, Geni, seis netos e três bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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