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    Mulheres ligadas à Globo fazem protesto em apoio a figurinista

    DO RIO
    DE SÃO PAULO

    04/04/2017 12h07 - Atualizado às 17h25

    Funcionárias e mulheres ligadas à Rede Globo fazem na manhã desta terça (4) um protesto em apoio à figurinista Susllem Meneguzzi Tonani, que acusou de assédio o ator José Mayer no blog da Folha #AgoraÉQueSãoElas.

    As mulheres estão se mobilizando para trabalhar usando camisetas com a frase "Mexeu com uma, mexeu com todas". O protesto também acontece em redes sociais, com uma postagem em massa de fotos da camiseta.

    Twitter/@cissa_guimaraes
    Foto postada pela atriz e apresentadora Cissa Guimarães em sua conta no Twitter
    Foto postada pela atriz e apresentadora Cissa Guimarães em sua conta no Twitter

    Artistas como Camila Pitanga, Bruna Marquezine, Fernanda Lima, Grazi Massafera, Astrid Fontenelle e Cissa Guimarães aderiram. Funcionárias da Globo fizeram reuniões nos últimos dias para discutir assédio. Os encontros foram organizados por um grupo que reúne desde camareiras até diretoras e atrizes, que foram recebidas também pelo diretor-geral Carlos Henrique Schroder.

    A Globo, em nota, diz que participou das reuniões e que na última segunda (3) houve uma conversa "franca e aberta" sobre o caso com chefes da área de entretenimento. "Essa acabou sendo mais uma oportunidade para que a Globo reforce crenças de respeito à diversidade, ao ser humano, que existem na emissora há tempos."

    Procurado, o ator publicou carta aberta dizendo que errou ao fazer brincadeiras de cunho machista. Na semana passada, ele havia negado a acusação de assédio e pediu para que não "misturem ficção com realidade".

    Segundo o colunista Fernando Oliveira, do F5, após as acusações, a Globo decidiu que Mayer não fará a novela para a qual estava escalado, "O Sétimo Guardião". A avaliação da emissora é de que será necessário tempo fora do ar para evitar desgaste. Além disso: personagens sedutores nunca mais.

    A Rede Globo comentou o assunto em nota. "Essa é uma atitude isenta e responsável da Globo de não dar visibilidade a uma das partes envolvidas numa questão que é visceralmente contra tudo que a Globo acredita. E não é uma atitude isolada. A atitude da Globo será sempre essa. A de defender que casos como esse devem ser apurados, ouvindo e oferecendo todo apoio às duas partes, dando possibilidade para que a verdade aflore e criando condições para que não se repitam. Foi isso que fizemos. E é isso que sempre faremos", diz a empresa.

    Em outra nota, a Comunicação da Globo diz que a emissora "repudia toda e qualquer forma de desrespeito, violência ou preconceito. E que zela para que as relações entre funcionários e colaboradores se deem em um ambiente de harmonia de acordo com o código de ética e conduta do Grupo Globo".

    A emissora disse ainda que tomou a decisão de suspender o ator de produções futuras por tempo indeterminado e que se solidariza a iniciativa de funcionários, colaboradores e executivos de usar nesta terça (4) camisetas com os dizeres 'Mexeu com uma, mexeu com todas'..

    "O ator José Mayer, de enorme talento e com grandes serviços prestados à Globo e às artes brasileiras, certamente terá oportunidade de expressar seus sentimentos em relação ao triste episódio e esclarecer que atitudes pretende tomar. A Globo lamenta que Susllen Tonani tenha vivido essa situação inaceitável num ambiente que a emissora se esforça cotidianamente para que seja de absoluto respeito e profissionalismo. E, por essa razão, pede a ela sinceras desculpas", completou a nota da Globo.

    ASSÉDIO

    A figurinista acusou o ator de assédio sexual dentro de camarim da TV Globo, no Rio de Janeiro. Ele nega, e a emissora diz que o "assunto foi apurado e as medidas necessárias estão sendo tomadas".

    Em relato publicado no blog #AgoraÉqueSãoElas, da Folha, na madrugada de sexta-feira (31), Susllem Tonani, 28, afirmou que o ator colocou a mão esquerda na genitália dela em fevereiro deste ano, "na presença de outras duas mulheres".

    No depoimento, a figurinista diz que já recebia cantadas de Mayer havia oito meses. "Ele era protagonista da primeira novela em que eu trabalhava como figurinista assistente."

    "Trabalhando de segunda a sábado, lidar com José Mayer era rotineiro. E com ele vinham seus 'elogios'. Do 'como você se veste bem', logo eu estava ouvindo: 'como a sua cintura é fina', 'fico olhando a sua bundinha e imaginando seu peitinho', 'você nunca vai dar para mim?'."

    Renato Rocha Miranda - 10.out.2016/Globo/Divulgação
    Celebridades 10.10.2016 - José Mayer interpreta Tião em "A Lei do Amor". (Foto: Renato Rocha Miranda/Globo/Divulgação)
    O ator José Mayer, acusado de assédio por figurinista da Globo

    Segundo Susllem, suas negativas não surtiram efeito. "Disse a ele, com palavras exatas e claras, que não queria, que ele não podia me tocar, que se ele me encostasse a mão eu iria ao RH. Foram meses saindo de perto."

    Susllem nasceu em Vitória (ES) e cursou desenho industrial na Universidade Federal do Espírito Santo. Trabalhou em campanhas publicitárias, cinema, teatro, moda e televisão. Mudou-se para o Rio há cinco anos para seguir a carreira de figurinista. Ela afirma que, após o assédio, seguiu "no mecanismo subserviente". Dias depois, diz que sofreu outro constrangimento da parte de Mayer.

    "Até que nos vimos, ele e eu, num set de filmagem com 30 pessoas. Ele no centro, sob os refletores, no cenário, câmeras apontadas para si, prestes a dizer seu texto de protagonista. Neste momento, sem medo, ameaçou me tocar novamente se eu continuasse a não falar com ele. E eu não silenciei. 'VACA', ele gritou."

    Depois desse episódio, ela conta que procurou o RH, a ouvidoria e o "departamento que cuida dos atores" da Globo. "Acessei todas as pessoas, todas as instâncias, contei sobre o assédio moral e sexual que há meses eu vinha sofrendo."

    "A empresa reconheceu a gravidade do acontecimento e prometeu tomar as medidas necessárias", escreve.

    "Sinto no peito uma culpa imensa por não ter tomado medidas sérias e árduas antes, sinto um arrependimento violento por ter me calado, me odeio por todas às vezes em que, constrangida, lidei com o assédio com um sorriso amarelo. "

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