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    Planalto sinaliza veto a medidas anti-Uber se Senado não derrubá-las

    GUSTAVO URIBE
    DE BRASÍLIA
    GIBA BERGAMIM JR.
    DE SÃO PAULO

    05/04/2017 17h00

    Pedro Ladeira - 04.abr.17/Folhapress
    Motoristas do Uber protestam contra a votação de projeto sobre o aplicativo na Câmara
    Motoristas do Uber fazem manifestação contra votação de projeto sobre o aplicativo na Câmara

    A equipe do presidente Michel Temer diz esperar que as emendas consideradas prejudiciais ao serviço de transporte Uber –empresa que conecta motoristas particulares a passageiros– e similares sejam alteradas ou derrubadas pela base aliada no Senado.

    Texto aprovado nesta terça-feira (4) na Câmara dos Deputados aproxima o aplicativo Uber e seus similares das regras hoje aplicadas aos táxis, principais rivais das empresas.

    Uma das alterações, por exemplo, retira a condição de transporte privado para os aplicativos que existe atualmente, o que naturalmente o converteria em concessão pública, no modelo de placa vermelha, como acontece com os taxistas.

    Segundo assessores e auxiliares, o peemedebista tem simpatia pelo projeto federal que autoriza os municípios a regular a ação do transporte individual por meio de aplicativos de celular.

    A avaliação é que os destaques inseridos na Câmara, contudo, em vez de igualarem os direitos entre os serviços de Uber e de táxi, apenas prejudicam o funcionamento do primeiro, afetando a oferta do serviço de transporte para a população.

    Caso as emendas sejam modificadas, a proposta voltará para a Câmara, que terá a palavra final e poderá reinserir as emendas parlamentares.

    Nas palavras de um assessor presidencial, caso os destaques sejam mantidos até o envio da proposta ao presidente, a tendência atual é de que eles sejam vetados.

    Toby Melville - 28.out.16/Reuters
    Usuário mostra aplicativo do Uber no celular; Planalto sinaliza que vetará emendas aprovadas
    Usuário mostra aplicativo do Uber no celular; Planalto sinaliza que vetará emendas aprovadas

    O Congresso ainda pode, contudo, derrubar o veto presidencial caso reúna o voto de pelo menos metade dos senadores e deputados em sessão conjunta.

    O plenário da Câmara aprovou o projeto com as emendas parlamentares na terça-feira (4).

    Nesta quarta-feira (5), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), defendeu o veto presidencial aos dois destaques.

    "Defendo que o presidente vete os dois artigos aprovados aqui. Respeito o direito da maioria, sou um democrata, e é bom que de vez em quando sua posição não seja a majoritária, mas vou defender, claro, o meu ponto de vista que esses dois artigos", disse.

    A votação representou uma vitória dos taxistas, categoria diretamente afetada pelo surgimento do Uber. Deputados chegaram a entoar "eu sou taxista, com muito orgulho, com muito amor" após aprovarem as emendas.

    As empresas donas dos aplicativos afirmam que as emendas aprovadas igualam a tecnologia aos táxis e representam, na prática, uma proibição ao seu funcionamento.

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    ENTENDA
    Regras do transporte

    Principais medidas previstas no projeto aprovado pela Câmara
    - Serviço por aplicativos não é mais considerado transporte privado, o que o converte em concessão pública, como os táxis
    - Atividade deve ser regulamentada e fiscalizada pelos municípios e o DF

    Ao regulamentar e fiscalizar o serviço, municípios deverão
    - Cobrar tributos municipais
    - Exigir a contratação de seguros (DPVAT e APP, para passageiros)
    - Exigir que o condutor seja contribuinte do INSS

    Será exigido dos motoristas
    - Autorização específica do município
    - CNH que indique atividade remunerada
    - Veículo que atenda idade máxima e características determinadas pelos municípios
    - Registro e licenciamento (CRLV) em seu nome, como proprietário, fiduciante (devedor) ou arrendatário, com registro e emplacamento do veículo na categoria aluguel (como os táxis)

    Próximos passos
    - Projeto passa pelo Senado
    - Caso seja modificado, volta para a Câmara
    -Temer sanciona ou veta o texto, parcial ou totalmente
    - Congresso pode derrubar o veto presidencial, caso reúna metade dos deputados e senadores

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    SÃO PAULO

    Com a aprovação do projeto na Câmara, o modelo de regulamentação de transporte por aplicativos criado em São Paulo fica ameaçado na visão da comissão de trânsito da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil) e de empresas que atuam na cidade – entre elas, Uber, 99, Cabify e Easygo.

    Em São Paulo, a regra criada na gestão Fernando Haddad (PT) e atualizada na administração João Doria (PSDB) prevê que as empresas paguem uma taxa progressiva que começa em R$ 0,10 por quilômetro rodado, podendo chegar a R$ 0,40.

    No entanto, as empresas têm desconto quando os carros circularem nas seguintes condições: fora do horário de pico, nas áreas periféricas, aos domingos e feriados, na modalidade compartilhada (pool) e com motoristas mulheres. Também recebem o benefício se usarem carros não poluentes ou acessíveis para deficientes.

    "Isso representa uma mudança muito radical em São Paulo e outros municípios. Da maneira como foi aprovado, o projeto equipara o Uber ao serviço de táxi, como uma concessão pública", disse o presidente da Comissão de Trânsito da OAB, Maurício Januzzi.

    Para ele, a lei municipal que vigora na capital paulista terá que ser revogada. "Devera e ser feita uma nova legislação", afirmou.

    Para o diretor da Cabify no Brasil, Daniel Velasco-Bedoya, o projeto é um passo para trás,

    "Se passar desse jeito no Senado, a prefeitura terá que rever a regulamentação, já que ela deixa claro que trata-se de um modelo privado", disse Bedoya.

    Para ele, as emendas aprovadas indicam que a proposta principal é limitar o número de carros. "A regulamentação atual visa somente o controle do uso do viário, mas não de carros. É um passo para trás", disse.

    Já Matheus Moraes, diretor de política e comunicação da 99, afirma que as emendas descaracterizaram a ideia inicial, que era defendida pelos aplicativos.

    "A base dessa lei era uma regulamentação geral, que dava aos municípios o dever de regulamentar. As emendas tiraram a coerência do texto", disse.

    O Uber diz que o projeto vai na contramão de um mercado em crescimento, especialmente em direção às periferias das cidades, onde há carência de transporte individual.

    TAXISTAS

    Porta-voz do Movitáxi (entidade independente que reúne taxistas em todo o Brasil), Wagner Caetano disse que o projeto vai harmonizar o serviço de transporte individual nas cidades.

    "Vai fazer com que haja concorrência leal e evitará a concentração de mercado que existe hoje. Será favorável à concorrência e ao usuário", disse.

    Para Caetano, o projeto também garante a obrigatoriedade de qualificação profissional, caso seja mesmo considerado transporte público.

    Um dos principais questionamentos dos taxistas atualmente é que motoristas do Uber não precisam ser submetidos a testes de direção e reciclagem, como corre com os motoristas de táxi.

    "Vai qualificar o sistema de transporte individual", afirmou.

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