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    Rio de Janeiro

    Militares podem pegar até oito anos de prisão por agressão em batalhão no RJ

    DO RIO

    10/04/2017 18h36

    Arquivo Pessoal
    Soldado do Exército mostra ferimentos após sofrer agressões dentro de batalhão no Rio de Janeiro
    Soldado do Exército mostra ferimentos após sofrer agressões dentro de batalhão no Rio de Janeiro

    Oito militares podem ser punidos de dois até oito anos de prisão pela agressão a dois soldados durante um trote em um batalhão do Exército, no Rio.

    De acordo com o advogado Marcelo Figueira, o seu cliente, que não quer ter o seu nome revelado, foi "torturado" em maio no 27º Batalhão de Infantaria Paraquedista, em Deodoro, zona oeste do Rio.

    O processo está na Justiça Militar do Rio e conta com o depoimento de outro soldado, também agredido no mesmo dia.

    O soldado defendido por Figueira chegou a ter um dos testículos amputados logo após as agressões. Deprimido, o jovem de 20 anos pede também uma indenização pela "tortura" na Justiça Federal.

    Segundo o soldado, ele teve os braços e pernas amarrados e recebeu chutes, tapas, golpes de madeira e fios por cerca de três minutos. Ao final, um militar mordeu as suas nádegas até sangrar.

    As agressões fariam parte de um trote.

    Apesar de o Exército já ter afastado os oito militares indiciados, outros dez suspeitos denunciados pelo soldado permanecem trabalhando no batalhão.

    Desde outubro, o jovem que teve o testículo amputado está afastado por determinação do psicólogo do Exército. O soldado corre o risco de perder o outro testículo e ainda é obrigado a usar remédios controlados para amenizar as crises de pânico.

    "Aquelas cenas não saem da minha cabeça. Sonho constantemente. Está difícil conviver com essa situação", afirmou o soldado, que engordou nove quilos desde que foi internado pela primeira vez em maio.

    Obrigado a ir no batalhão pelo menos uma vez por mês desde então, o jovem de 20 anos costuma vomitar e ter crises nervosas nestes dias. Em todas as vezes, ele encontrou com pelo menos um dos militares que o torturaram.

    De acordo com o relato na ação na Justiça Federal, ele foi chamado para a sala dos cabos para um trote. No segundo andar do prédio, 18 cabos o aguardavam. Lá, o soldado foi espancado de várias formas (paus, fios, socos) pelo grupo.

    Com ferimentos no corpo e dores nos testículos, ele só conseguiu deixar o local com a ajuda de um outro companheiro, que foi poupado do trote por ter desmaiado.

    Antes, um outro soldado, que também prestou depoimento no IPM (Inquérito Policial Militar), que virou inquérito na Justiça Militar, foi espancado com os mesmos golpes, segundo relato.

    No dia seguinte, após urinar sangue, o jovem foi internado em um hospital militar, teve o testículo amputado e entrou de licença.

    Em agosto, ele voltou a ser incorporado ao batalhão, mas recebeu licença médica em outubro por não conseguir "conviver" com os seus torturadores.

    "O sonho da minha vida era ser militar paraquedista. Me preparei todo esse tempo para isso. Mas depois daquilo está difícil conviver com a realidade", disse o soldado.

    "Minha vida está paralisada. Não sei o que vou fazer no futuro. Por enquanto, quero apenas me tratar", acrescentou.

    Sentido desamparado pelo Exército, ele entrou em março com uma ação na Justiça Federal pedindo uma indenização por danos psicológicos, morais e estéticos.

    "O meu cliente foi torturado pelos seus superiores e nunca mais teve a sua vida restabelecida. Por isso, decidimos entrar contra a União", disse o advogado Marcelo Figueira.

    Na Justiça Militar, os dois soldados espancados serão ouvidos no dia 10 de maio. As penas aos oito denunciados variam de dois a oito anos de prisão.

    O Comando Militar do Leste informou que os oito militares não "têm mais qualquer vínculo administrativo com a instituição" e aguarda a decisão da Justiça Militar.

    De acordo com a nota, o Comando do 27º Batalhão tem adotado todas as medidas administrativas e de apoio médico e psicológico em atenção ao soldado que teve o testículo amputado.

    O Exército informou que "rechaça veementemente a prática de maus-tratos ou de qualquer ato que viole direitos fundamentais dos militares em treinamento e cursos de formação".

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