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    Projeto para privatização de Interlagos prevê prédio residencial no autódromo

    ROGÉRIO GENTILE
    GIBA BERGAMIM JR.
    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    25/04/2017 02h00

    Rodolfo Buhrer/La Imagem/Fotoarena/Folhapress
    O autódromo de Interlagos, na zona sul de SP
    O autódromo de Interlagos, na zona sul de SP

    A empresa que adquirir o autódromo de Interlagos poderá erguer prédios dentro do complexo. A autorização constará do projeto de privatização que deverá ser enviado em maio à Câmara Municipal pelo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB).

    A prefeitura decidiu liberar empreendimentos imobiliários em Interlagos porque concluiu que o autódromo, por si só, tem baixíssima viabilidade econômica -dificilmente seria vendido sem algum tipo de benefício extra.

    Interlagos tem um alto custo de manutenção. São cerca de R$ 7 milhões por ano. Além disso, periodicamente, precisa passar por obras para se adequar às exigências da Fórmula 1. A última grande reforma custou cerca de R$ 160 milhões à prefeitura.

    Com a privatização, todos esses custos passarão a ser de responsabilidade da empresa compradora, que poderá utilizar os novos empreendimentos para se rentabilizar.

    Interlagos tem cerca de 1 milhão de m², dos quais cerca de 300 mil m², segundo estimativa de técnicos da prefeitura, estarão disponíveis para as novas construções.

    A prefeitura entende que, preservada a pista e o parque existente (de acesso gratuito para a população), a área pode ser utilizada para a construção de imóveis residenciais, de um shopping center, de um hotel, de restaurantes com vista panorâmica e de um museu automobilístico.

    Não está claro ainda se o kartódromo, situado ao lado do circuito oficial, terá de ser mantido também. Embora Doria tenha dito que pretende preservá-lo, vereadores dizem considerar que o espaço será necessário para viabilizar a privatização. Inaugurado em 1970, o equipamento foi batizado em 1996 de Kartódromo Ayrton Senna.

    Onde fica - Autódromo de Interlagos

    OPERAÇÃO URBANA

    Para tornar a alienação do autódromo atraente, a prefeitura está disposta, inclusive, a alterar a legislação urbanística da região.

    A ideia é liberar a construção de grandes torres no bairro, com até oito vezes a área do lote. Hoje, na cidade de São Paulo, o máximo permitido são quatro vezes.

    Se o projeto for levado adiante, Interlagos, onde hoje predominam casas e prédios de baixa altura, poderá ter nos próximos anos espigões com mais de 45 andares –apenas uma pequena área estritamente residencial não seria atingida pela medida.

    A alteração dependerá da aprovação na Câmara de São Paulo da chamada Operação Urbana Jurubatuba, ainda em fase de elaboração.

    Em linhas gerais, trata-se de um mecanismo legal por meio do qual, mediante contrapartida financeira, os interessados ficam autorizados a construir edifícios maiores do que o estabelecido pela lei de uso e ocupação do solo.

    Vereadores estimam que a venda do autódromo, somada à verba obtida pela prefeitura com os Cepacs (certificados de construção, nome técnico dado às contrapartidas), poderá dobrar o valor arrecadado com o negócio.

    Tudo o que vier a ser arrecadado com os Cepacs, pela lei, teria de ser investido em melhorias na própria região, incluindo o prolongamento da marginal Pinheiros até as cercanias do autódromo.

    A expectativa da base governista é aprovar a operação urbana até o final do ano.

    Espigões em Interlagos - Gestão Doria estuda mudanças na região

    77 ANOS

    O autódromo de Interlagos foi construído em 1938 pela empresa Aesa, mas a inauguração ocorreu apenas em 12 de maio de 1940. A pista original tinha 7.960 metros, hoje são 4.309 metros.

    O nome Interlagos é uma referência à região suíça de Interlaken, que significa "entre lagos", pois fica entre as represas Billings e Guarapiranga. Em 1985, o autódromo foi rebatizado para José Carlos Pace, em homenagem póstuma ao piloto.

    A prefeitura comprou o complexo em 1950 por 23 cruzeiros o metros quadrado, valor bem abaixo do valor real avaliado à época (300 cruzeiros o metro quadrado).

    Segundo a SPTuris (empresa municipal que administra o autódromo), a realização do Grande Prêmio de Fórmula 1 na cidade injeta atualmente cerca de R$ 260 milhões na economia local.
    Os técnicos da administração municipal ainda não finalizaram os estudos para a avaliação do preço de venda do autódromo.

    Em entrevista no começo do ano, Doria chegou a dizer que a cessão de Interlagos e do Anhembi juntos poderia render cerca de R$ 7 bilhões para a cidade, valor maior do que o previsto no Orçamento para investimento (obras novas) em 2017 (R$ 6,1 bilhão).

    A privatização do autódromo, de qualquer modo, um dos 55 itens considerados como desestatizáveis pela gestão Doria, deve ocorrer somente no ano que vem, segundo a avaliação dos técnicos da prefeitura.

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    Área total
    1 milhão de m²

    Custo de manutenção
    R$ 7 milhões ao ano

    AS OPÇÕES DE DORIA
    A prefeitura quer privatizar a área. Há duas opções para tornar o negócio rentável:

    1) Com espigões
    Para ser mais atraente para investidores, Doria precisa enviar o projeto que cria a Operação Urbana Jurubatuba. Nesse caso, o limite de altura dos prédios seria de até oito vezes o tamanho do terreno
    Contrapartida: Os investidores precisam pagar para construir mais. Os valores vão para um fundo que pode ser usado para investimentos na região

    2) Com altura a definir
    A prefeitura precisa fazer um projeto de intervenção urbana (PIU) por decreto (sem passar pela Câmara) para dar início ao plano de privatização. Nesse caso, o prefeito pode liberar, por exemplo, a construção de um complexo que colocaria o autódromo no meio de prédios residenciais, comerciais e hotéis. Porém, o limite de altura dependeria de estudo para definir a média da região
    Contrapartida: A futura dona da área terá que pagar taxa para construir os prédios. Os valores poderiam ser revertidos em investimento para toda a cidade

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