O nome nos documentos era Ailton, mas poucos além dos parentes o conheciam assim. Desde novo era chamado pelo apelido, Garrote. "Eu mesma só fui descobrir o nome dele depois de três anos", diz Lara, companheira dele por sete anos. Tampouco se sabe a origem do apelido.

Os não tão próximos acrescentavam ainda um aposto em reverência: nômade Garrote –nômade é a designação dos membros da elite do Abutre's, tradicional motoclube do país.

Garrote nasceu em Barbacena (MG), onde aprendeu o ofício de mecânico com o pai. Rebelde, o garoto não gostava de estudar. Após uma briga séria em casa –o pai era bravo-, fugiu para São Paulo, aos 12 anos.

Na cidade grande, aprimorou o serviço em oficinas mecânicas, se especializou em veículos a diesel e entrou no mundo das motocicletas. Quem olhava o motociclista de colete preto, chapéu, óculos escuros e cachimbo sempre na boca talvez não imaginasse que era um homem carinhoso, de sorriso fácil.

Dono de quatro cachorros da raça pinscher miniatura, costumava chegar em casa e perguntar: "Cadê os meus pequeninos?"

Ainda assim, era turrão. Quando cismava com algo, ia até o fim, como na vez em que se recusou a pagar um pedágio que queriam cobrar porque sua moto tinha uma pequena carreta e um sidecar. Fez a polícia retirar os cones e seguiu caminho, sem pagar.

Morreu aos 64 anos, após ser baleado no peito em uma tentativa de assalto. Deixa a companheira, dois filhos, dois netos e os quatro cãezinhos, que levava em suas viagens.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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