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    Prefeitura baiana exige fraldas em animais e habilitação para carroceiro

    MÁRIO BITTENCOURT
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM VITÓRIA DA CONQUISTA (BA)

    04/05/2017 02h00

    Mario Bittencourt/Folhapress
    Prefeitura de Vitoria da Conquista (BA) impoe carroceiros a ter habilitacao e a por †fraldas †em animais. Foto: Mario Bittencourt/Folhapress ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Carroceiros em Vitória da Conquista (BA); nova lei exige fralda para cavalos e habilitação para condutor

    Após sete anos de trabalho carregando todo tipo de carga e já próximo de ser aposentado, o cavalo Tortilho terá de usar fraldas por determinação da Prefeitura de Vitória da Conquista (BA).

    O equino é um dos pouco mais de mil animais que puxam veículos de tração na terceira maior cidade do Estado e que, a partir da segunda quinzena de maio, só poderão andar de "fraldão", sob o risco de serem apreendidos.

    Com esta medida, Vitória da Conquista segue o exemplo de outras cidades turísticas brasileiras. Em Arraial d'Ajuda, distrito de Porto Seguro, cavalos usam fraldas há mais de dez anos, assim como em Paquetá e Petrópolis, ambas no Rio de Janeiro.

    A novidade na cidade baiana foi anunciada recentemente pela administração local, que é comandada pelo radialista Herzem Gusmão (PMDB). Ele venceu a última eleição municipal, rompendo a hegemonia de 20 anos de gestão petista, a mais longeva do partido no Brasil.

    Além dos cavalos, os carroceiros também terão de se adaptar a novas regras, como ter carteira de habilitação para conduzir a carroça, a qual terá de estar licenciada e emplacada, como de praxe para qualquer outro veículo.

    De acordo com a prefeitura, as medidas relativas aos carroceiros, seus veículos e os bichos são para fazer valer uma lei de 2008 que visa ordenar o trânsito de veículos de tração animal.

    A gestão do PMDB afirma que a lei vinha sendo respeitada em parte pela gestão petista –foram colocadas placas apenas nas 50 carroças que complementam o serviço de coleta de lixo.

    A prefeitura informou que dará curso de oito horas de noções básicas de trânsito para os carroceiros e depois a habilitação, sem custos –menores de 18 anos não poderão ser habilitados.

    Em seguida, ela afirma que identificará as carroças com placas para facilitar a fiscalização do descarte correto de entulhos e materiais, já que muitos carroceiros o fazem em local não adequado, como em terrenos baldios.

    Dono de Tortilho há um ano, o carroceiro Zenildo de Jesus Oliveira, 34, até concorda com as placas e a habilitação, mas acha que "a moda das fraldas não vai pegar".

    "Estou mais interessado em saber o valor das fraldas. Acho que isso vai mais nos prejudicar, nos fazer ter custos, que nos ajudar no serviço", afirma Oliveira.

    DESCARTE

    Segundo a Secretaria de Serviços Públicos, o cadastro das carroças será iniciado nos próximos dias. A estimativa é registrar pouco mais de mil.

    Já os fraldões terão de ser colocados pelos carroceiros e seguirão um padrão estabelecido pela secretaria. Não há estimativa até agora de quanto isso deve custar.

    O material coletado terá de ser descartado em locais a serem definidos e servirá para fazer adubo para plantas.

    Catadora de recicláveis, Jocélia Brito dos Santos, 45, que todos os dias percorre as ruas centrais da cidade, considera que as novas determinações estão exageradas.

    "Esse fraldão, qual é o animal que vai deixar botar? E para a gente, que fica em cima da carroça, vai ter de aguentar o fedor até chegar num lugar pra jogar fora?"

    Moradores questionam essa interferência da prefeitura na atividade dos carroceiros.

    "Se fosse uma coisa para gerar renda, ainda vai. Mas isso aí de fralda só vai trazer prejuízo. Imagine quantas fraldas serão usadas por dia e o custo delas", afirmou o feirante Edvaldo Moraes Chaves Filho, 40.

    "O que a cidade precisa mesmo é de segurança, de melhorias no transporte público, de tapar os buracos nas ruas. As carroças são um problema bem secundário", opinou o vendedor de pastel e caldo de cana José Antônio Rodrigues Mendes, 51.

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