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    Com bike e roupa amarela, família vai às ruas por doações de sangue no PR

    ADRIANA BRUM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CURITIBA

    08/05/2017 02h00

    Theo Marques/Folhapress
    Casal Marinês, 47, e Elízio Batistel, 55, e os filhos Germano, 14, e Hernani, 10
    Casal Marinês, 47, e Elízio Batistel, 55, e os filhos Germano, 14, e Hernani, 10

    "As pessoas vêm me perguntar, com receio, que tipo de câncer a Marinês tem.

    Nenhum. Mas ela ter raspado a cabeça causa essa impressão", conta o funcionário público Elízio Batistel, 55, sobre a curiosidade de quem ele costuma abordar no centro de Curitiba para pedir a doação de sangue.

    As pessoas se impressionam com a careca adotada pela mulher de Elízio, Marinês Batistel, 47. O casal e dois dos seus três filhos, Germano, 14, e Hernani, 10, promovem, todos os sábados, panfletagem no calçadão da cidade pedindo a doação de sangue. Eles são a Família Bike Amarela e esse trabalho voluntário, iniciado em 2014, é uma das ações que desenvolvem.

    O grupo usa e defende a bicicleta como meio de transporte e, além de convidar a população para doar sangue, faz visitas regulares a pessoas hospitalizadas.

    Eles também são recebidos em escolas para falar sobre cicloativismo e apoiam crianças que precisam de doação de medula óssea, seja para custear o tratamento ou para pedir que mais pessoas se cadastrem como doadoras.

    Atualmente, ajudam Yossef dos Santos, 5, e Emmanuelly Vitória de Andrade, 2.

    A Família Bike Amarela carrega este nome desde 2010, quando, após participarem do Dia Mundial Sem Carro, venderam o automóvel e adotaram as bicicletas.

    Logo perceberam que era preciso mais do que a vontade de pedalar: as poucas ciclovias da cidade privilegiavam rotas de passeio e as ruas eram hostis aos ciclistas.

    Resolveram se vestir de amarelo, cor que no semáforo indica "atenção". O uniforme os tornou conhecidos.

    A motivação para criar ações solidárias surgiu de uma tragédia alheia. Após testemunharem um acidente de trânsito em que um motociclista morreu, o clã Batistel decidiu fazer algo para mudar o destino de outras pessoas e optou pela conscientização de que doar sangue é doar vida.

    Mas adotar uma "agenda do bem" não foi fácil: o engajamento já resultou em acidentes e até preconceito.

    "Na escola, tiravam sarro das minhas roupas [de ciclista]. Mas quem sofre mais é minha mãe, com preconceito. Quando ela raspou a cabeça, eu e o Hernani ouvimos no colégio que era bem-feito ela estar com câncer e que ia morrer", diz Germano, que gerencia as redes sociais das campanhas de cadastramento de medula óssea das crianças.

    "Já apanhei na rua de duas mulheres que disseram que minhas visitas às escolas eram para me exibir. O projeto era para arrecadar lacres de latas de refrigerante para doar aos hospitais. Raspei a cabeça por necessidade de me identificar com as pessoas, especialmente as crianças, que eu visito nos hospitais", afirma Marinês.

    As dificuldades no percurso fizeram o quarteto discutir, mais de uma vez, se a Família Bike Amarela deve continuar seus projetos. Acreditam que precisam seguir, no pedal e nas campanhas.

    "O que nos dá forças para continuar é saber que os percalços nos tornam mais fortes e que ajudamos mais pessoas a andar de bicicleta e a ter uma vida melhor", diz Elízio.

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