O alagoano Elon Lages Lima gostava de lembrar os primórdios do Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio, instituição que viu nascer e onde foi aluno, professor, pesquisador e diretor.

Em entrevista para a Folha em 2013, contou que na década de 1960 os membros do Impa –hoje o mais importante centro de matemática da América Latina– trabalhavam sem nenhuma regulamentação profissional. "Os pesquisadores recebiam seus salários em envelopes, sem nenhum direito trabalhista. O dinheiro, além disso, era pouco, o que afastou os aventureiros. Só quem tinha compromisso com a matemática ficou."

Compromisso com a disciplina nunca faltou. Aos 87, ainda frequentava quase diariamente o instituto. Doutor pela Universidade de Chicago, desenvolveu trabalhos reconhecidos na área de topologia algébrica e era membro da Academia Brasileira de Ciências.

Como professor do Impa, foi mentor e inspirador de mais de uma geração de matemáticos brasileiros de destaque. Também dirigiu a instituição em três períodos (1969-71, 1979-80 e 1989-93).

Sua contribuição mais importante, no entanto, foi ter sido um dos criadores da literatura matemática nacional. Escreveu ao longo da vida mais de 40 livros na área, que há muito fazem parte do currículo da disciplina em universidades de todo o país. Recebeu duas vezes o Prêmio Jabuti de Ciências Exatas.

Morreu no dia 7, após parada cardíaca. Deixa mulher, cinco filhos, netos e uma trajetória que se confunde com o desenvolvimento da matemática no Brasil.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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