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    mosquito aedes aegypti

    Fim de situação de emergência para zika preocupa estudiosos da área

    ANGELA BOLDRINI
    DE BRASÍLIA
    CLÁUDIA COLLUCCI
    DE SÃO PAULO

    12/05/2017 02h00

    Reprodução/Plos One
    O mosquito _Aedes aegypti_, causador de doenças como dengue, zika e chikungunya
    O mosquito Aedes aegypti, causador de doenças como dengue, zika e chikungunya

    O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta (11) o fim da situação de emergência pública nacional para o vírus da zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.

    A decisão será comunicada à OMS (Organização Mundial da Saúde), que considerou estado de emergência internacional para zika entre fevereiro e novembro de 2016.

    O anúncio, 18 meses após a decretação da emergência, foi recebido com preocupação por pesquisadores, que temem que as medidas preventivas sejam afrouxadas e as vítimas do zika, esquecidas.

    De acordo com o ministério, o fim da emergência se dá porque a epidemia já não é mais considerada "fato incomum ou inesperado", embora ainda tenha impacto sobre a saúde pública nacional.

    "O fim do decreto de emergência não observa critérios políticos, mas técnicos", afirmou João Paulo Toledo, diretor do DVDT (Departamento de Vigilância de Doenças Transmissíveis) da pasta.

    O país registrou queda de 95% nos casos de zika em 2017, em relação a 2016. Até abril de 2016, haviam sido notificados 170 mil casos, contra cerca de 7.900 neste ano.

    Os registros de microcefalia também tiveram redução. Neste ano, foram confirmados 230 novos casos. Ao todo, desde o início da emergência em saúde, em novembro de 2015, foram 2.653 casos confirmados.

    O pesquisador Carlos Brito, professor de medicina da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), concorda que a atual situação não obedece mais aos critérios de emergência pública, mas que continua preocupante.

    "As chances de disseminação do vírus para outros países não existe mais porque ele já se disseminou, porém há um risco real e provável de novas epidemias de zika nos próximos anos", diz ele.

    Para Brito, a queda nos casos de zika e de microcefalia se deve mais à sazonalidade do vírus do que à implantação de medidas preventivas efetivas no país –eliminação dos criadouros, por exemplo. Isso acontece com outras arboviroses, como a dengue.

    Brito lembra que estudos recentes mostraram que 50% dos brasileiros ainda podem estar suscetíveis à infecção por zika. "A última epidemia ficou concentrada em alguns Estados do Nordeste."

    A antropóloga Debora Diniz, pesquisadora e professora da UnB (Universidade de Brasília), afirma que a "emergência humanitária" do zika ainda está em curso no país e que as mulheres e crianças afetadas pelo vírus continuam desprotegidas das políticas sociais.

    "O fim da emergência as abandonará ainda mais. Serão esquecidas como vítimas de uma fatalidade que passou. Não passou. O mosquito ainda está lá. E as mulheres estão à espera das políticas prometidas."

    Na próxima semana, a pesquisadora divulgará relatório sobre afetados pelo zika em Alagoas. "São majoritariamente adolescentes, desprotegidas das políticas sociais e fora da escola."

    Para ela, é preciso qualificar a mensagem sobre o fim da emergência. "Não acabou o risco. Só as esquecemos [as mulheres afetadas]."

    DOENÇAS DO AEDES AEGYPTI - Casos prováveis até abril de cada ano

    Os registros de doenças transmitidas pelo Aedes aegypti no país despencaram do ano passado para este ano.

    A dengue teve redução parecida com a da zika, de 90% –passando de 1,2 milhão de casos para 113 mil. E a chikungunya, queda de 68% (de 135 mil para 43 mil).

    Os números das três doenças estão bastante baixos para esta época, se comparados aos dos dois últimos anos –o que pode ser explicado pela sazonalidade.

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