O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), disse nesta segunda-feira (15) haver um "conceito de ideologia, até um sentimento partidário" nas escolas. Os professores, segundo ele, precisam ser treinados para as condições do século 21.

As declarações, feitas pelo tucano em Nova York, são semelhantes às do movimento Escola sem Partido, que é alvo de polêmica entre especialistas em educação e, em linhas gerais, busca restringir opiniões políticas e religiosas de professores em sala de aula. Um projeto de lei com o mesmo nome também tramita na Câmara dos Vereadores.

A assessoria do prefeito, porém, disse que a posição de Doria de concordar que não deve haver ideologia ou partidarismo na formação de professores não significa que ele defende as propostas do movimento.

Ao falar sobre modernização do ensino e criticar "um sentimento partidário" entre professores, o tucano defendeu que os interesses dos alunos prevaleçam. Disse ainda que "as crianças hoje querem ser educadas com celulares, tablets e computadores". "Não queremos mais escolas públicas com giz e lousa."

CRISE

O tema da ideologia nas escolas já gerou crise na gestão Doria. Foi a origem de uma tensão entre o prefeito e o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider, que chegou a pedir demissão do cargo em abril, mas foi convencido pelo tucano a ficar.

A instabilidade começou quando o secretário criticou a visita de Fernando Holiday (DEM), vereador e integrante do MBL (Movimento Brasil Livre), a uma escola municipal para "verificar se estava havendo doutrinação ideológica por parte de professores".

"O vereador exacerbou suas funções e não pode usar de seu mandato para intimidar professores", escreveu Schneider em uma rede social, o que provocou uma forte reação dos apoiadores do MBL, algumas delas agressivas.

	Karime Xavier/Folhapress
	Vereador do DEM Fernando Holiday (à dir.) e secretário de Educação de São Paulo, Alexandre Schneider

Holiday negou que tenha intimidado professores e respondeu a Schneider. "Até entendo que sindicatos, partidos e mesmo alguns parlamentares se baseiem em inverdades para fazer suas críticas, como é de costume em frequentes casos. Mas esta não pode e nem deve ser a conduta do responsável pela educação do maior município do país."

Em meio à polêmica, o vereador aproveitou para protocolar o projeto de lei Escola sem Partido. O secretário, radicalmente contrário à ideia, esperava algum sinal de defesa da prefeitura, o que não aconteceu publicamente.

O prefeito até tentou colocar panos quentes em conversas reservadas com líderes do movimento, mas isso não evitou a sequência de ataques a Schneider, que acabou pedindo o afastamento. O secretário foi defendido por empresários, educadores, políticos e membros de ONGs do setor. A ONU também criticou a ação de Holiday.

CORUJÃO DA SAÚDE

Nesta segunda, em Nova York, Doria também se queixou das críticas de especialistas ao seu programa Corujão da Saúde, criado para acabar com a fila de espera por exames na rede municipal. Ele disse que um jornal de grande circulação publicou editoriais e artigos de especialistas contra a ideia.

O prefeito iniciou neste domingo (14) uma série de encontros na cidade norte-americana para para promover São Paulo e oferecer oportunidades de negócios para investidores. Nesta terça (16), ele vai receber o prêmio "Person of the Year", da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos.