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    Após operação, Doria instala revista policial para acesso à cracolândia

    ARTUR RODRIGUES
    DE SÃO PAULO

    22/05/2017 09h33 - Atualizado às 11h54

    A gestão João Doria (PSDB) criou neste segunda-feira (22) barreiras policiais para revistar pessoas que entram no quarteirão da cracolândia, na região central de São Paulo.

    A função está a cargo da Guarda Civil Metropolitana, que está revistando mochilas das pessoas que entram nas quadras próximos da rua Helvétia e da alameda Dino Bueno. Os agentes estão barrando, principalmente, barracas, carroças e lonas para evitar que os dependentes químicos se instalem novamente no local.

    As barracas foram retiradas após operação policial no domingo (21). Segundo a atual gestão, a corporação permanecerá no local para evitar o retorno dos usuários. Durante a campanha para prefeito, o deputado federal e então candidato Celso Russomanno (PRB) havia proposto tática semelhante para sufocar a venda de drogas na vizinhança.

    Dono de uma lanchonete no local há 30 anos, Nel Saad, 50, afirma que a ação apenas transferiu o problema de lugar. "Se não colocarem em nenhum lugar os viciados, vai ser como tirar da minha casa e colocar na sua", diz.

    Ele afirma achar injusto que, agora que os usuários foram tirados do local, haja a ameaça de demolição dos comércios. "Já vieram até medir aqui. Você passa anos roendo o osso e quando chega a carne seca não pode morder", diz.

    Em 2012, outra operação policial também retirou os viciados do lugar. Os dependentes que se concentravam no local se dispersaram para outros pontos da região, como no domingo.

    Há 15 anos na cracolândia, a agente de turismo Denise Santos, 41, diz que a operação feita desta vez foi mais pacífica. "Tenho fé que que dessa vez melhore. Os viciados não mexiam com a gente, mas os clientes não estavam mais vindo", disse.

    Com o esquema de segurança, os usuários de drogas passaram a se concentrar em ruas nos arredores, em grupos menores. No perímetro onde costumavam ficar, há ao menos 12 carros da GCM. Apesar das equipes de limpeza trabalhando, ainda há sujeira pelas ruas.

    CENTRO PSICOSSOCIAL

    Nesta segunda, a gestão João Doria prometeu a instalação de um centro psicossocial (Caps) na área em uma semana. A ideia é que o local faça o atendimento ambulatorial dos usuários de drogas, diz o secretário municipal da Saúde, Wilson Pollara.

    A construção será pré-fabricada, em uma esquina da rua Helvétia. Pollara esteve na região acompanhado do secretário estadual da Saúde, David Uip. Segundo os secretários, 300 pessoas foram acolhidas, 100 atendidas pelo Recomeço e 12 internadas voluntariamente.

    "[O programa] Redenção vai ser o Caps e o acolhimento de rua. A internação vai para o Estado", disse Pollara. Ele afirmou que não haverá mais necessidade da concentração de equipamentos onde o fluxo de viciados costumava ficar. "Agora temos que fazer pela cidade inteira. Logicamente as pessoas que vierem [para a cracolândia] serão abordadas para atendimento, assim como em qualquer lugar da cidade", disse.

    O secretário David Uip afirmou que já estava previsto o espalhamento dos viciados em drogas pela cidade. Agora, o trabalho de atendimento será feito por meio da abordagem de usuários de crack por equipes municipais e estaduais.

    Cracolândia - Operação policial - Fluxo - Onde fica - Perfil dos usuários

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    Cronologia

    Operações e projetos na região que não deram certo

    Set.2005
    A gestão Serra-Kassab dá início ao projeto Nova Luz, que pretendia recuperar a área com investimento público e privado, mas o modelo não vingou

    Fev.2008
    O então prefeito Gilberto Kassab (PSD) afirma que a cracolândia não existe mais. "Não, não existe mais a cracolândia. Hoje é uma nova realidade", declarou. O consumo de drogas, no entanto, continuou explícito

    Jan.2012
    Polícia Militar intensifica a Operação Centro Legal e ocupa as principais ruas da Luz com cerca de 300 homens. Dependentes que se concentravam na rua Helvétia se dispersam para outros pontos da região

    15.jan.2014
    Assistentes sociais e funcionários da prefeitura retiram usuários e limpam a rua. Segundo a prefeitura, 300 pessoas foram cadastradas no programa Braços Abertos, da gestão Haddad (PT). O tráfico, porém, persistiu

    23.jan.2014
    Três policiais civis à paisana vão ao local para prender um traficante e usuários reagem com paus e pedras. A confusão aumentou com chegada de reforços e terminou com cerca de 30 detidos

    29.abr.2015
    Operação desarticulada da prefeitura e do governo do Estado transforma o centro em uma praça de guerra, com bombas de gás, furtos a pedestres e depredação de ônibus. Dois dias depois, fluxo retornou. Haddad chamou ação de 'sucesso'

    5.ago.2016
    Polícia realiza operação com 500 homens na cracolândia e ocupação do Cine Marrocos, no centro, e prende ao menos 32 pessoas

    Descaminhos da cracolândia

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