• Cotidiano

    Sunday, 05-May-2024 10:12:35 -03

    Abrigo não pode impedir que morador fique no chão, diz secretário de Doria

    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    23/05/2017 13h07

    Marlene Bergamo/Folhapress
    Espaço municipal que recebeu usuários da cracolândia reunia usuários dormindo no chão e sem colchão
    Espaço municipal que recebeu usuários da cracolândia reunia usuários dormindo no chão e sem colchão

    A gestão João Doria (PSDB) negou nesta terça-feira (23) que os usuários de drogas e moradores de rua levados para o centro de acolhida da prefeitura nos últimos dias tenham dormido no chão após operação na região da cracolândia, no centro de São Paulo.

    "O que acontece é que muitos moradores de rua se enrolam em cobertores e deitam no chão. A prefeitura não pode impedir que eles fiquem no chão. Ninguém dormiu no chão", afirmou o secretário de assistência social, Filipe Sabará.

    A cena foi flagrada pela Folha na segunda (22). Ao menos duas dezenas de homens dormindo enfileirados no chão frio e duro, sem colchão, tentando se proteger com cobertores acinzentados, dentro do complexo Prates, no Bom Retiro.

    Frequentadores do local disseram faltar estrutura para atender mais pessoas –por já estar lotado. Eles pediram para não ter os nomes revelados com medo de represálias. Um homem afirmou haver 55 beliches improvisados na quadra e temer que novos moradores pudessem ficar em lugar descoberto até de noite.

    Nesta terça, policiais e agentes de saúde continuam na região. Além de manter os dependentes químicos dispersos, a prefeitura também tem emparedado imóveis. Moradores reclamam que não puderam nem tirar seus pertences de dentro dos imóveis.

    OPERAÇÃO

    A operação realizada no domingo terminou com 50 suspeitos presos e três adolescentes apreendidos.

    De acordo com as investigações, 30 barracas de venda de crack e outras drogas funcionavam na cracolândia. A feira criminosa era tão organizada que aceitava até cartão de débito e crédito na comercialização dos entorpecentes.

    Doria chegou a dizer no dia da operação que a a cracolândia tinha "acabado". No dia seguinte, porém, o prefeito atenuou o tom do discurso e passou a usar expressões mais semelhantes às do governador Geraldo Alckmin (PSDB) –que tratou a operação na região como um "primeiro passo".

    Doria disse que a ação é contínua e que não se acaba com o consumo de drogas "com um passe de mágica". "Tem que fazer o processo de abordagem e isso leva tempo. Não há milagre", disse ele, rebatizando a área como Nova Luz.

    O tucano também negou qualquer disputa com o governo durante a ação. Sem o prefeito, Alckmin visitou novamente a cracolândia nesta segunda. Chegou a ser abordado na rua por dependentes químicos. "Temos que ter realidade de que não vai resolver em 24 horas. É uma questão crônica que envolve questão policial, social e de saúde pública", disse.

    Descaminhos da cracolândia

    *

    Programas sociais na cracolândia

    RECOMEÇO

    Criação: Governo do Estado (jan.2013, sob Alckmin)
    Objetivos: Tratar o usuário com medidas ambulatoriais, inclusive internações compulsórias
    O que oferece: Acesso a tratamento, internação se preciso, encaminhamento a capacitação e recolocação profissional
    Orçamento anual: R$ 80 milhões
    Gasto por usuário: R$ 1.350 por mês (internação)

    BRAÇOS ABERTOS

    Criação: Prefeitura de SP (jan.2014, sob Haddad) - Foi extinto por Doria
    Objetivos: Reinserir o dependente na sociedade e estimular a diminuição do consumo de drogas
    O que oferece: Moradia em hotéis, 3 refeições por dia, apoio em tratamentos, profissionalização e emprego
    Orçamento anual: R$ 12 milhões
    Gasto por usuário: R$ 1.320 por mês

    REDENÇÃO

    Criação: Prefeitura de SP (mai.2017, sob Doria)
    Objetivos: Unir os dois programas, visando tanto a reinserção do usuário como o tratamento clínico
    O que oferece: Moradia distante do "fluxo", trabalho em empresas privadas e encaminhamento a tratamento
    Orçamento anual: Ainda não estimado
    Gasto por usuário: Ainda não estimado

    -

    Cronologia

    Operações e projetos na região que não deram certo

    Set.2005
    A gestão Serra-Kassab dá início ao projeto Nova Luz, que pretendia recuperar a área com investimento público e privado, mas o modelo não vingou

    Fev.2008
    O então prefeito Gilberto Kassab (PSD) afirma que a cracolândia não existe mais. "Não, não existe mais a cracolândia. Hoje é uma nova realidade", declarou. O consumo de drogas, no entanto, continuou explícito

    Jan.2012
    Polícia Militar intensifica a Operação Centro Legal e ocupa as principais ruas da Luz com cerca de 300 homens. Dependentes que se concentravam na rua Helvétia se dispersam para outros pontos da região

    15.jan.2014
    Assistentes sociais e funcionários da prefeitura retiram usuários e limpam a rua. Segundo a prefeitura, 300 pessoas foram cadastradas no programa Braços Abertos, da gestão Haddad (PT). O tráfico, porém, persistiu

    23.jan.2014
    Três policiais civis à paisana vão ao local para prender um traficante e usuários reagem com paus e pedras. A confusão aumentou com chegada de reforços e terminou com cerca de 30 detidos

    29.abr.2015
    Operação desarticulada da prefeitura e do governo do Estado transforma o centro em uma praça de guerra, com bombas de gás, furtos a pedestres e depredação de ônibus. Dois dias depois, fluxo retornou. Haddad chamou ação de 'sucesso'

    5.ago.2016
    Polícia realiza operação com 500 homens na cracolândia e ocupação do Cine Marrocos, no centro, e prende ao menos 32 pessoas

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024