Um homem morreu após cair de um prédio comercial que ele e mais três colegas pichavam na Bela Vista, região central de São Paulo, na madrugada deste domingo (28). Os sobreviventes, que têm entre 22 e 37 anos, foram presos. O caso foi registrado como pichação e homicídio culposo.

Segundo o delegado Ricardo Prezia, do 78ºDP (Jardins), o grupo subia um prédio na rua Rui Barbosa durante a madrugada. "Eles escalaram a marquise, por volta das 5h20, e cada um foi servindo como uma espécie de suporte ao outro", diz Prezia.

"Quando estavam entre o terceiro e quarto andares, um deles quebrou o vidro." Nesse momento, segundo os pichadores disseram à polícia, o zelador escutou o barulho e começou a gritar: "Sai daqui!"

O delegado conta que os pichadores se assustaram e tentaram descer rapidamente. Foi quando o ajudante Patrick Alexandre Liu escorregou e caiu nos fios de alta tensão. Ele, que completava 34 anos, bateu a cabeça e quebrou o pescoço, segundo o delegado.

Os amigos esconderam as tintas spray no carro de um deles e foram presos quando a polícia chegou. Três tinham passagem, diz a polícia: um por pichação, outro por furto e Liu, que morreu, por tráfico de drogas.

O delegado disse que iria estabelecer fiança para os três presos. "Será de, no mínimo, R$ 10 mil porque houve a morte. Eles foram imprudentes, negligentes e imperitos e, por isso, serão indiciados por homicídio culposo (sem intenção)", afirmou. Lei municipal prevê que os pichadores podem ser multados em ao menos R$ 5.000.

"Nossa família está destroçada. Meu irmão é um bom rapaz, nunca falou em pichação. Trabalhava, era muito calmo", disse Geraldo Laurentino, irmão de Rafael Gomes da Silva, 29, um dos pichadores presos. Silva, que já tinha sido detido por pichação, segundo a polícia, atua em empresa de logística. "Somos em sete irmãos. Nossos pais morreram em um período de um ano. Acho que abalou o Rafa", disse Laurentino.

DORIA

"Lamento muito a morte desse rapaz", disse o prefeito João Doria (PSDB), em inauguração primeiro espaço para grafites do MAR (Museu de Arte de Rua), na zona norte de São Paulo, neste domingo.

Vinte grafiteiros profissionais vão participar da criação das obras nos muros. "Isso é arte", disse o tucano. "A arte é deles: a prefeitura viabiliza e implanta o museu", disse Doria. O prefeito também deixou sua marca em uma das paredes do museu: com spray, desenhou um coração, símbolo do programa Cidade Linda.

A gestão Doria assumiu a Prefeitura de São Paulo em janeiro com um discurso agressivo em relação aos pichadores, mas o prefeito negou que haja guerra contra os pichadores. "Há apenas disciplina. Aqueles que ainda insistem na pichação terão o rigor da lei", disse o tucano, após lamentar a morte do pichador na região central.

Segundo o prefeito, 128 pichadores foram detidos desde fevereiro, quando ele sancionou lei que penaliza infratores com multa. O balanço não inclui os detidos no final de semana.

A administração pintou de cinza os grafites das avenida 23 de Maio, na zona sul de São Paulo, considerado um mural a céu aberto.

A remoção de grafites da 23 de Maio aconteceu na esteira do programa de combate à pichação, anunciado por Doria antes mesmo de tomar posse. A cobertura dos desenhos por tinta cinza provocou protesto. No aniversário da cidade, houve vaias contra Doria e manifestantes o acusaram de fazer uma "política higienista".

Após a remoção dos grafites, a prefeitura iniciou a instalação de um corredor verde na avenida. As primeiras plantas e folhagens começaram a ser colocadas nesta semana, na altura do viaduto Tutoia, mas também receberão vegetação os muros dos viadutos Santa Generosa, Beneficência Portuguesa, Pedroso, São Joaquim e Jaceguai.

Com a polêmica em torno dos grafites apagados, Doria lançou em março o programa MAR (Museu de Arte de Rua), que pagará até R$ 40 mil a projetos de grafiteiros para áreas públicas da cidade. Serão selecionados inicialmente oito projetos que ocuparão diferentes regiões.

	Bruno Santos/Folhapress
	Parede de grafites pintada de tinta cinza na av. 23 de Maio