Na UFRJ da década de 80, o piauiense Mário Alberto Cardoso da Silva Neto era o estudante tímido que entrou precocemente no curso de biologia, sentava-se nas primeiras cadeiras, escrevia suas anotações em inglês e sempre fazia perguntas inteligentes.

Três décadas depois, não era raro vê-lo andando depressa pelos corredores da universidade, agora como pesquisador premiado e responsável por projetos promissores envolvendo o mosquito Aedes aegypti.

Resolveu dedicar-se às doenças que afetavam o Rio de Janeiro após passar dois anos na universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Voltou ao Brasil decidido: montou seu mosquitário e sua equipe e começou a tocar os mais de dez projetos em que colocava todo o seu coração.

Versátil, estudava formas de conter a população do Aedes ao mesmo tempo em que levava a ciência para crianças de escolas públicas. Enquanto criava plantas geneticamente modificadas, produzia revistas em quadrinhos sobre pesquisadores brasileiros.

Ainda tinha tempo para correr maratonas, fazer aulas de caratê, cuidar de seus filhos e levar a vida ao lado da mulher, Georgia, que também era sua parceira de trabalho.

Descobriu, em dezembro de 2016, um câncer avançado no pulmão. Morreu no último dia 11 de maio, aos 50 anos, deixando os pais, a esposa, dois filhos e vários alunos. Seu enterro foi marcado pela homenagem das crianças de um de seus projetos. Com instrumentos comprados por Mário, a pequena orquestra "Sons do Silêncio" tocou uma sinfonia inspirada pelos sons do Aedes aegypti.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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