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    NY usou os 'tribunais de drogas' contra epidemia de crack da década de 1980

    MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
    DE NOVA YORK

    01/06/2017 02h00

    Frances M. Roberts/ Latinstock
    Prédio abandonado que era usado como "casa do crack", em Nova York, em foto de 1986
    Prédio abandonado que era usado como "casa do crack", em Nova York, em foto de 1986

    Foi em meados da década de 1980 que o crack se tornou uma epidemia em Nova York. Pouco conhecida, poderosa e bem mais barata do que a cocaína, a droga se espraiou.

    Em vizinhanças no Harlem, no sul de Manhattan e no Brooklyn traficava-se ao ar livre e consumia-se nas ruas, em automóveis e em prédios abandonados, conhecidos como "casas do crack".

    Editoria de arte/Folhapress

    Na esteira da recessão do início da década, a cidade enfrentava uma grave crise financeira, que entre outras consequências reduziu o contingente policial.

    Enquanto no plano federal a administração Ronald Reagan aprovava, em 1986, uma lei que agravava as penas para portadores e usuários, na cidade a polícia fazia o que podia para tentar reprimir o tráfico e o consumo.

    O número de prisões disparou, mas os resultados foram frustrantes. A Justiça e as casas de detenção entupiam, mas as "cracolândias" continuavam a prosperar –apenas mudavam de lugar.

    A polícia e os agentes do DEA, a agência federal de combate às drogas, aprenderam que não estavam lidando com quadrilhas e cartéis hierarquizados, como no caso da cocaína. Não se tratava de prender os chefes e desbaratar organizações criminosas. O tráfico era pulverizado. Gangues se multiplicavam e brigavam entre si, elevando índices de criminalidade.

    Em 1989, numa tentativa de mudar a pouca eficácia da repressão, surgiram em Miami os chamados "tribunais de drogas", cortes com estrutura judicial de promotoria e defesa combinadas à atuação de assistentes sociais e agentes de saúde comunitários para tratar os viciados.

    Presos com drogas em quantidades de consumo passaram a ter, nesses tribunais, a alternativa de livrar-se da cadeia caso aderissem a um programa de recuperação, com duração de cerca de um ano. A corte foi replicada às dezenas em Nova York. Hoje são mais de 140.

    Os tribunais se revelaram uma alternativa mais barata e eficaz no combate ao vício e à criminalidade a ela associada do que o encarceramento.

    Além da conjugação de repressão ao tráfico e tratamento para os usuários, especialistas apontam como fator para o fim da epidemia a reação comunitária e geracional ao contraexemplo da devastação provocada.

    Em 1994, o ciclo do crack já era declinante e a economia melhorava quando Rudolf Giuliani assumiu a prefeitura, reaparelhou a polícia, reduziu os índices de criminalidade e tornou famosa sua polêmica política de "tolerância zero".

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