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    Epidemia de crack expôs drama racial em cidade da Califórnia nos anos 1980

    FERNANDA EZABELLA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM LOS ANGELES

    02/06/2017 02h00

    Peter DaSilva - 17.05.07/The New York Times
    Casa abandonada em região degradada de Oakland
    Casa abandonada em região degradada de Oakland

    A epidemia de crack que tomou conta de Oakland em meados dos anos 1980, com hotéis decadentes tomados por usuários e traficantes, afetou a população de tal modo que, no final dos anos 90, a cidade tentava revitalizar seu centro com um programa de habitação familiar para atrair 10 mil novos moradores.

    Oakland, vizinha a São Francisco e na época com menos de 400 mil habitantes, foi uma das cidades mais atingidas pela droga, que primeiro surgiu na costa oeste dos EUA como uma alternativa mais barata e viciante à cocaína.

    O poder público levou anos para reconhecer o problema e respondeu com força policial, dando início à maior onda de prisões em massa e construção de diversos presídios na Califórnia.

    Como os locais de venda eram com frequência palco de violência, o Congresso aprovou uma lei em 1986 que tornou a posse de crack mais punitiva do que cocaína, droga usada por maioria branca e mais rica. Cinco gramas de crack davam cinco anos de prisão, enquanto, para cocaína, eram necessários 500 gramas.

    Famílias foram desfeitas, "bebês do crack" eram abandonados em hospitais e sequelas daquela época são vista ainda hoje nas comunidades negras.

    "Pelo menos, naquele tempo, tínhamos propriedades e negócios. Hoje, não tem um negro na minha rua com casa própria ou loja", disse La'Cole Martin numa reportagem do "SF Weekly".

    Martin, que trabalha numa ONG para famílias carentes, vive no mesmo bairro de Oakland em que cresceu e viu seu pai e sua tia se viciarem. Ele acabou preso, e ela ainda luta contra o vício.

    COMUNIDADE

    A ausência de políticas públicas levou à formação de grupos comunitários para pensar soluções, criar campanhas educativas e divulgar acessos a tratamentos.

    A iniciativa era inédita no país, e um dos grupos era o Oakland Crack Task Force que, sem ajuda financeira, organizava atividades. Num seminário, o ator ganhador do Oscar Lou Gossett fez um discurso para 6.000 pessoas.

    A histeria do crack sumiu do noticiário com a chegada das drogas sintéticas e por que não havia mais ganho político na questão, já que democratas e republicanos concordavam com a estratégia de encarceramento em massa.

    "Eram negros e assustavam a classe média branca. Os políticos jogavam com isso", disse o professor de sociologia Craig Reinarman, da Universidade da Califórnia Santa Cruz, organizador do livro "Crack in America", de 1997. "Os usuários não ficam assim só porque colocam um cachimbo na boca. São pessoas que já estavam desesperadas e marginalizadas. Então o problema não se resolve apenas tirando o cachimbo e jogando na prisão."

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