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Praça Princesa Isabel, com a estátua de Duque de Caxias, é a nova cracolândia, no centro de SP |
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Cotidiano
Saturday, 23-Nov-2024 12:26:51 -03ANÁLISE
Dependentes de crack confrontam valores mais caros aos paulistanos
MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHAALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA11/06/2017 02h00
"Aqui é trabalhador", "só tem família", "somos moradores" são brados frequentes em vídeos de qualquer ação policial na cracolândia.
A tentativa última de evitar a violência por meio de códigos de inclusão reflete, de maneira simbólica, os principais resultados das pesquisas Datafolha sobre o tema tanto com a população da capital de SP, divulgada na semana passada, quanto o módulo com os usuários da droga, publicado agora.
Trabalho, família e estudo são as instituições mais valorizadas pelos brasileiros, segundo levantamentos nos últimos 20 anos. Não à toa, são usadas ostensivamente por dependentes, moradores da região e também qualquer campanha eleitoral que se pretenda vitoriosa -"João Trabalhador" é exemplo.
Em índice de satisfação elaborado pelo Datafolha há três anos, os únicos atributos que se equiparam ao relacionamento familiar como os mais importantes na vida dos paulistanos são a "saúde" e as "condições físicas e mentais para a execução das tarefas do dia-a-dia".
Editoria de Arte/Folhapress São Paulo mostra dificuldade em lidar com os que fogem, mesmo que em parte, dessas características, os que ficam à margem da população economicamente ativa. Mas, por outro lado, não deixa de enxergá-los.
Prova disso são as duas versões do estudo DNA Paulistano, de 2008 e 2012, em que as piores notas atribuídas pelos moradores a cada um dos 96 distritos, dentre mais de 40 aspectos dos bairros, referiam-se justamente a políticas públicas para jovens, idosos e deficientes físicos, isto é, estratos inibidos pelo mercado de trabalho.
Os usuários de crack, aos olhos dos paulistanos, personificam o extremo desse gradiente de exclusão, a antítese do que enxergam e valorizam sobre si. A taxa de desempregados entre os viciados é 18 vezes maior que a verificada na população.
Entre os que desenvolvem alguma atividade, quase todos se ocupam de bicos, enquanto entre os paulistanos de um modo geral a maior parte dos ativos tem salário e registro em carteira.
Sobre família e estudo, outros contrastes: a grande maioria dos usuários vive atualmente sozinho, é solteiro e, apesar do aumento da escolaridade, a maioria continua apenas com o ensino fundamental. Na população, 77% estudaram pelo menos até o ensino médio.
O fato de mais da metade (62%) dos usuários vir de outras cidades ajuda a estigmatizá-los. Na última vez que o Datafolha aplicou sua matriz ideológica junto aos moradores, há três anos, mais de um terço concordou com a frase "pessoas pobres de outros países e Estados que vêm trabalhar na sua cidade acabam criando problemas para o município".
A taxa supera a média brasileira em sete pontos percentuais e é o dobro da verificada entre os habitantes do Recife, por exemplo.
Na mesma matriz, 81% concordavam com a afirmação de que "o uso de drogas deve ser proibido porque toda a sociedade sofre com as consequências". Na ocasião, apenas 16% julgavam o usuário como a única vítima. São opiniões dominantes na cidade que explicam o percentual dos favoráveis às internações à força e a maneira como se deu a desocupação.
Entre os usuários, a posição diametralmente oposta sobre essas ações reflete o temor de quem sofre na pele, por sinal mais escura do que na média da população, a violência frequente dos agentes do Estado -o número de usuários interpelados pela polícia no último mês é praticamente o dobro dos que foram abordados por assistentes sociais ou de saúde.
Isto os torna ainda mais arredios às internações e às ações policiais, mas satisfaz os impulsos do crescente segmento conservador hoje majoritário em São Paulo.
Clique na imagem para ver a pesquisa
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