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    No 'escuro', gestão Doria inicia ajuste nas regras que definirão novas obras

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    14/06/2017 02h00

    Fernando Donasci - 16.jan.2014/Folhapress
    Vista aérea da cidade de São Paulo; ao centro, o parque do Ibirapuera, na zona sul da capital
    Vista aérea da cidade de São Paulo; ao centro, o parque do Ibirapuera, na zona sul da capital

    Aquele conjunto de regras que define o que pode ou não ser construído na cidade, conhecido como Lei de Zoneamento, será revisto pela gestão de João Doria (PSDB) apenas 14 meses após ter sido aprovado pelos vereadores.

    Em alguns dias, começam as audiências públicas para debater o tema. A prefeitura mantém em segredo as datas.

    O projeto de lei com as alterações pontuais, segundo a prefeitura, deve chegar à Câmara até o final do mês.

    Cota ambiental, altura dos prédios, tamanho dos apartamentos próximos ao transporte público, largura de calçadas e reforma de imóveis antigos estão entre os itens a serem discutidos e modificados.

    Além desses temas, que envolvem a cobrança de outorga onerosa (taxa que os empreendedores precisam pagar caso queiram fazer prédios com características que estejam fora das regras urbanísticas do local), o processo tem causado estranheza entre especialistas por causa da rapidez da prefeitura.

    O Executivo não apresentou um texto prévio nem justificativas claras sobre a necessidade de se fazer ajustes na lei, aprovada em março do ano passado na Câmara.

    "Toda mudança como essa envolve interesses. O que não está claro é quais são os interesses em jogo. Da forma como está sendo conduzida a revisão, acaba gerando desconfiança", afirma o urbanista Kazuo Nakano, professor da Faculdade Belas Artes, que participou da equipe que fez o Plano Diretor em 2014.

    "Inevitavelmente, a regra do jogo vai mudar, para o bem ou para o mal. Sem uma justificativa clara, nem sabemos se era o caso de fazer essa revisão agora", diz ele.

    Procurada, a gestão Doria disse que a secretária Heloísa Proença, urbanista e responsável pela pasta que trata do assunto, não está dando entrevistas sobre o tema.

    Em nota, a prefeitura informa que "entende que é necessário corrigir e ajustar o zoneamento da capital, para que haja uma melhor aplicação da lei à cidade real".

    "Vejo o processo de calibragem do zoneamento como saudável. Precisamos fazer os ajustes, porque sem eles a legislação tem travado a cidade", afirma Adriana Levisky, do escritório Levisky Arquitetos e vice-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura.

    Como não deve ocorrer mudança de conceito, mas alterações pontuais, a arquiteta acredita que o tempo para o debate é adequado. "São poucas questões técnicas que vão mudar. Teremos tempo para a discussão", avalia Levisky.

    POLÊMICAS

    De qualquer forma, diferentes polêmicas devem surgir a partir dos debates.

    Uma das alterações (veja abaixo) deve ter o objetivo de facilitar a aplicação da cota ambiental, o conjunto de regras que as novas construções são obrigadas a fazer para deixar a cidade mais verde e menos sujeita a inundações. Algumas regras valem para reformas.

    Também está entre os objetivos da gestão Doria incentivar o retrofit (reforma em prédios antigos, mas que preserve a fachada original) na área central da cidade, o que segue travado pelo texto atual, segundo a prefeitura.

    Se o objetivo do Executivo for mantido, novos hospitais e escolas, por exemplo, também não deverão ser mais obrigados a disponibilizar espaços públicos dentro dos limites de seus imóveis.

    No anúncio à sociedade sobre as alterações, aparecem ao menos outros dois pontos polêmicos. A definição da altura dos prédios é um deles. O segundo é o tamanho máximo dos apartamentos em empreendimentos erguidos nos chamados corredores de transporte público.

    Para a Associação Comercial de São Paulo, os ajustes propostos são positivos.

    "No caso do retrofit, precisamos ter a oportunidade de fazer reformas melhores. O que adianta deixar os prédios antigos abandonados?", indaga Antonio Carlos Pela, coordenador do Conselho de Política Urbana da entidade.

    Apesar de não fazer parte do setor imobiliário, ele afirma ser favorável às mudanças pedidas pelo setor, como apartamentos maiores ou com mais garagens nos eixos urbanos. "Quem pede são os clientes, não é o mercado."

    Em reuniões com vereadores, a prefeitura reforçou que as mudanças serão pontuais, com o intuito de calibrar o pagamento das outorgas.

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    Entenda a mudança

    O que é a Lei de Zonamento
    Determina o que pode ser construído na cidade de São Paulo, rua a rua, e quais atividades -comércio, indústrias e residências- são liberadas em cada local

    Quando foi aprovada
    Ela foi sancionada por Fernando Haddad (PT) em 23.mar.2016, após 13 mil sugestões e um ano e nove meses de debates; vai regular o uso do solo urbano por mais 12 anos, aproximadamente

    Por que a prefeitura quer mudá-la
    A gestão diz que alguns pontos do texto não dialogam com a cidade real, inviabilizando projetos; o objetivo da revisão é "uma melhor aplicação da lei"

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    AÇÕES RECENTES E PRÓXIMOS PASSOS

    2ºsem.2016
    Depois da aprovação da lei, grupos do mercado imobiliário e de escritórios de arquitetura começaram a elencar pontos polêmicos que estavam atrapalhando a sua aplicação

    jan. a mai.
    Gestão João Doria (PSDB) avaliou a possibilidade de cumprir a lei na cidade

    26.mai a 5.jun
    Prefeitura recebeu propostas de mudança da população

    6 a 8.jun
    Administração sistematizou sugestões recebidas e consolidou projeto
    e lei, ainda não divulgado

    Até 23.jun
    Município vai iniciar audiências públicas e abrir discussão on-line sobre as mudanças

    Até 30.jun
    Gestão pretende finalizar o projeto e enviá-lo para análise dos vereadores

    Pontos em discussão

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