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    Grupo reforma e doa bicicletas usadas para quem precisa em Pernambuco

    KLEBER NUNES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    18/06/2017 02h00

    A bicicleta, que por cinco anos foi utilizada para serviços de office boy, hoje é o meio de locomoção e instrumento de trabalho do catador de materiais recicláveis Geonildo José Cruz, 40.

    Há um ano, a bike estava virando sucata nos fundos de uma escola particular do Cabo de Santo Agostinho, na região metropolitana do Recife, mas foi reformada e entregue gratuitamente ao novo dono. "Vai me ajudar muito no trabalho. Pedalando eu posso percorrer outras ruas e coletar mais", afirma o catador, que acoplou sua carroça à bicicleta reformada.

    Além de ajudar no sustento da família -mulher, filha e dois enteados-, Cruz diz que a bicicleta será importante para outros compromissos do cotidiano. "Dá até para levar minha mulher ao médico." Pelo menos outras 50 pessoas como Geonildo ganharam uma bicicleta por meio do projeto Magrela Velha, iniciativa que nasceu em 2012 como parte das ações do grupo de ciclismo Cabo Bike Clube.

    Quando não estão nos passeios semanais realizados às terças, quintas e domingos pelas ruas da cidade pernambucana -que não tem sequer um metro de ciclovia ou ciclofaixa-, os ciclistas estão em busca de bicicletas velhas que possam ser restauradas.

    "Dependendo do estado da bicicleta nós mesmos consertamos, mas em alguns casos levamos para oficinas. No máximo, em duas semanas ela fica pronta", diz o comerciante e presidente do Cabo Bike Clube, Marcos Xavier, 38.

    Os custos para o reparo, que incluem a troca de peças, como pedais e freios, por exemplo, além de pintura e adesivos, são bancados pelo grupo de ciclistas, que tem hoje cerca de 180 membros. "Os beneficiados são pessoas indicadas por conhecidos, mas, às vezes, alguns nos procuram.

    O critério é não ter condições financeiras para comprar uma bicicleta e, no caso das crianças, procuramos saber se estão na escola", afirma Xavier. Sem condições de realizar o sonho da filha, Lavínia Nayane Rocha, 11, a dona de casa Andréia Pereira, 31, recorreu ao Magrela Velha. "Meu marido está desempregado e, por isso, não temos como comprar a bicicleta que há anos ela vinha pedindo."

    A bicicleta que Lavínia brinca todos os dias com os colegas em frente à casa onde mora, no centro do Cabo de Santo Agostinho, foi a terceira doação que Alice Nascimento, 9, fez para o projeto. "Partiu dela mesma a intenção de doar a bicicleta", diz Auxiliadora Nascimento, 35, mãe da garota.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Para o professor Sérgio Costa, 58, doador da bicicleta que hoje ajuda Geonildo no trabalho diário de reciclagem, não só ganha quem recebe. "Eu não esperava que ela fosse ter um destino tão nobre. O projeto é uma lição de cidadania para todos nós."

    De acordo com Xavier, o desafio do grupo é ampliar as doações e atender as demandas que aumentam em datas festivas. "Precisamos de mais bicicletas para doar. No dia das crianças, por exemplo, realizamos festas nos engenhos que ficam na periferia. No ano passado só conseguimos três", afirma o ciclista.

    ARTE

    Até os resíduos produzidos pelos integrantes do Cabo Bike Clube são reutilizados. As peças descartadas em manutenções periódicas são transformadas em obras de arte pelas mãos de Jairo Lima, 49. O artista plástico, que também é um dos fundadores da equipe de ciclismo, cria corujas, pelicanos e pavões a partir de catracas, raios, correntes e eixos de bicicleta.

    "Foi mais uma maneira que encontramos de ajudar a natureza", diz Lima, que conta com a ajuda de outro artista, Josafá Rodrigues, 53. Com o sucesso das obras, que são vendidas por valores entre R$ 500 e R$ 1.200, Lima e Rodrigues preparam uma exposição.

    A mostra, ainda sem data definida, será realizada até setembro na Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, no centro da capital. Serão exibidas dez corujas confeccionadas com peças de bicicletas.

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