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    Passageiro filma pouso forçado em rio da Amazônia; piloto morre em resgate

    DHIEGO MAIA
    DE SÃO PAULO

    20/06/2017 12h28

    Um passageiro de um avião monomotor filmou um pouso forçado feito pelo piloto da aeronave em que estava num rio caudaloso da Amazônia.

    As imagens mostram que a aterrissagem de emergência ocorreu de forma tranquila. Piloto e passageiro sobreviveram ao acidente, buscaram abrigo na copa das árvores, mas o piloto acabou morto numa operação mal-sucedida de resgate.

    O acidente aconteceu na última quarta-feira (14). O passageiro e técnico de enfermagem Ednilson Cardoso, 28, gravou da pane à aterrissagem sobre o rio. O avião era pilotado por Elcides Rodrigues Pereira, 64.

    O vídeo tem 1 minuto e 33 segundos de duração. As imagens mostram Elcides Pereira comunicando o pouso forçado que faria sobre o rio Catrimani, localizado na Terra Indígena Yanomami, na porção sul de Roraima.

    "Estou em cima do rio Catrimani. Vou jogar nele", afirma Pereira na gravação. Nos minutos seguintes, o técnico Ednilson Cardoso diz com muita calma. "A gente está caindo agora."

    O piloto decide desligar o avião. As hélices param, o silêncio impera e o monomotor começa a planar. O que se vê no horizonte é uma imensidão verde e o rio, abaixo, serpenteando as árvores.

    Pereira consegue manter o avião flutuando sobre o rio Catrimani por poucos segundos, quando, o vídeo acaba com a aeronave engolida pelas águas. Não há gritaria e nenhum desespero.

    Reprodução
    Imagem feita por passageiro durante pouso forçado em rio da Amazônia; piloto morreu durante resgate
    Imagem feita por passageiro durante pouso forçado em rio da Amazônia; piloto morreu durante resgate

    RESGATE

    O piloto e o técnico de enfermagem esperaram horas pelo resgate. Eles permaneceram agarrados em árvores numa região de difícil acesso na terra dos Yanomamis.

    A aeronave onde eles estavam pertence à empresa Paramazônia Táxi Aéreo, que decidiu por conta própria resgatar a dupla sem comunicar o Corpo de Bombeiros.

    A empresa Paramazônia Táxi Aéreo prestava serviço para o Distrito Sanitário Indígena Yanomami havia quatro anos, segundo o Ministério da Saúde. Ednilson Cardoso é técnico de enfermagem da Sesai (Serviço Especial de Saúde Indígena) e faz viagens frequentes de avião entre Boa Vista, a capital de Roraima, e a Terra Indígena dos Yanomamis, onde trabalha.

    A Paramazônia encaminhou um helicóptero para o local do acidente. De forma improvisada, os regatistas da empresa jogaram uma corda no rio. O técnico de enfermagem a amarrou junto ao corpo e conseguiu subir até o helicóptero.

    O piloto Elcides Pereira não teve a mesma sorte. Muito debilitado, não conseguiu subir e caiu no rio novamente. O corpo do piloto só foi encontrado três dias depois, no último sábado (17), numa operação organizada, desta vez, pelo Corpo de Bombeiros.

    Em entrevista à Folha, Doriedson Silva Ribeiro, que chefia o Corpo de Bombeiros de Roraima, confirmou que a empresa não fez a comunicação imediata do acidente à corporação.

    "O acidente aconteceu às 14h e só fomos comunicados às 19h só depois que eles não conseguiram resgatar o piloto", disse o comandante.

    O resgate do corpo do piloto demorou, diz Ribeiro, em razão das condições do rio, que nesta época do ano está cheio e tem muitas curvas e correntezas.

    Após o resgate mal-sucedido, a Paramazônia levou três especialistas de mergulho do Corpo de Bombeiros de avião ao local do acidente. A aeronave pousou numa pista na terra indígena e a equipe levou mais seis horas de barco para chegar até o ponto exato onde o monomotor submergiu.

    "Só o Corpo de Bombeiros está capacitado para fazer resgates como esse. A chance de sucesso aumenta quando o órgão é comunicado imediatamente", disse o comandante dos bombeiros de Roraima.

    INVESTIGAÇÕES

    A Força Aérea Brasileira foi procurada pela reportagem e informou, por meio de nota, que o Centro de Controle de Área Amazônico foi notificado, às 14h25 (horário de Manaus) daquela quarta, por meio de uma outra aeronave que voava na região, de que o monomotor da Paramazônia realizaria um pouso de emergência no rio Catrimani.

    A partir de então, segundo a Aeronáutica, todos os procedimentos técnicos foram tomados, como a alocação de uma aeronave para resgatar os sobreviventes.

    A FAB esclareceu, no entanto, que a Paramazônia a procurou dizendo que faria por conta própria o resgate dos sobreviventes. Mas, segundo a força aérea, não houve comunicação posterior sobre o resgate frustrado do piloto, que caiu no rio e morreu afogado.

    A reportagem entrou em contato com o proprietário da Paramazônia Táxi Aéreo. Arthur Neto se recusou a falar sobre o acidente.

    A FAB disse ainda que uma equipe do SERIPA (Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) vai investigar as causas do acidente.

    O Ministério da Saúde também informou por nota que acompanha os desdobramentos das investigações. Segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), o avião Cessna U206F estava em situação regular.

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