Da primeira vez que José Alves da Silva decidiu deixar o povoado de Campo da Vitória, próximo a Seabra (BA), tinha 16 anos e nenhum tostão no bolso. Trabalhava na fazenda dos pais e resolveu tentar a vida em São Paulo.
De carona chegou até Bom Jesus da Lapa, na beira do São Francisco, onde entrou no barco a vapor Benjamin Guimarães e passou 15 dias rio acima até Pirapora (MG).
A ideia era chegar a Minas e tomar um trem. Mas teve medo de entrar naquela coisa fumacenta, que nunca tinha visto antes, e dormiu três dias na estação até criar coragem. De trem em trem chegou ao Brás, no centro de SP.
Conseguiu emprego numa fazenda no interior do Estado, mas não viu sentido em trabalhar para os outros se já tinha a lavoura do pai lá na Bahia. Juntou dinheiro e voltou.
Fez o mesmo caminho mais três vezes, mas de forma definitiva foi só há cerca de 50 anos, com mulher e os sete filhos, que criou numa casinha de dois cômodos na Vila Missionária, zona sul de SP, onde trabalhou como pedreiro.
Voltou à Bahia de novo há cerca de dez anos, com o filho caçula, Paulo –que é quem conta sua história– atrás de notícias da família e dos amigos que não viu por quatro décadas. Dessa vez, de avião.
Com boa saúde até o fim da vida, não parava quieto, apesar da idade avançada. "Com mais de 90 anos ele saía de casa para fazer compras, e lá ia a gente ficar correndo atrás dele", conta Paulo.
Morreu no último dia 17, aos 95, em decorrência de um câncer na bexiga. Deixa a mulher, Laura, sete filhos, 15 netos e sete bisnetos.
| Arquivo Pessoal | ||
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| José Alves da Silva (1922-2017), com a mulher, Laura, em Brasília |
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