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    Professora incentiva distribuição de abraços para humanizar área da saúde

    GUILHERME ZOCCHIO
    DE SÃO PAULO

    26/06/2017 19h31

    Guilherme Zocchio - 23.mai.2017/Folhapress
    Estudantes de curso de enfermagem distribuem abraços na estação Sé, em São Paulo
    Estudantes de curso de enfermagem distribuem abraços na estação Sé, em São Paulo

    A estação da Sé do metrô de São Paulo não é um lugar conhecido pela cordialidade de quem passa por ali. Isso muda, porém, em alguns momentos. Num deles, oito estudantes do curso de enfermagem do Centro Universitário São Camilo distribuíam abraços aos passantes.

    O ato poderia ser só um episódio pitoresco no cotidiano, mas se trata de atividade acadêmica. A ideia é da professora Fúlvia Rodrigues Torrezan, que dá aula de relacionamento interpessoal, comunicação e humanização da assistência em saúde, no 1º semestre da graduação.

    Nas aulas, ela incentiva os alunos a distribuir abraços para que reflitam sobre o contato com outras pessoas. "A enfermagem tem como tônica o cuidado. Eu quero saber dos estudantes qual a percepção deles frente aos sentimentos de um desconhecido", afirma Torrezan.

    Os abraços são acompanhados de discussões em sala com o objetivo de despertar reflexões sobre o vínculo entre enfermeiro e paciente. A disciplina alterna atividades fora de sala com discussões, seminários e aulas teóricas.

    A avaliação dos estudantes é feita, em parte, com o desenvolvimento do autoconhecimento dos graduandos.

    "A ideia é que os alunos possam se conhecer, e, a partir do momento em que se conheçam, possam conviver com o outro", diz Torrezan.

    Entre o grupo que distribuía abraços na estação da Sé, a estudante Ana Carolina Amaral, 21, relata que "no começo, é muito vergonhoso".

    "Após algum tempo, a gente reflete muito a energia que a gente tem no outro", afirma a colega Heloísa Oikawa, 19.

    Guilherme Zocchio - 23.mai.2017/Folhapress
    A ideia surgiu na aula de relacionamento interpessoal, comunicação e humanização da assistência em saúde
    A ideia surgiu na aula de relacionamento interpessoal, comunicação e humanização da assistência em saúde

    HUMANIZAÇÃO

    "Considerando que são alunos do primeiro semestre, isso é muito bom. A professora está mostrando a necessidade da humanização nas relações e no cuidado", disse à Folha Ana Lucia de Moraes Horta, professora da Escola Paulista de Enfermagem da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

    O abraço, afirma Horta, é importante para o enfermeiro que tem no contato com o corpo, principalmente de doentes, como prática recorrente. "O abraço promove a compaixão. Mostra estar mais próximo e uma empatia."

    Margareth Angelo, professora da Escola de Enfermagem da USP, define que a humanização "é tudo aquilo que o homem realiza em benefício do outro, visando o bem de alguém". Ela diz que abraçar não é a única estratégia para despertar isso nos estudantes da área de saúde.

    "É uma entre várias estratégias para incentivar uma prática mais humana." Para Angelo, é necessário também que o profissional reflita sobre a prática cotidiana.

    "Na rua, você não sabe quem você está abraçando. Desse momento, até o 'abraço profissional', o enfermeiro vai evoluindo o modo como cria um relacionamento terapêutico com o paciente", afirma a docente da USP.

    Enquanto o grupo de estudantes distribuía abraços na Sé em 23 de maio, a reportagem presenciou o contato com os passantes. Pessoas de todas as idades recebiam afeto e após o carinhoso aperto despediam-se com frequência com caloroso "obrigado".

    Torrezan diz, ainda, que há efeitos positivos do abraço sobre a saúde. "Protege do estresse, diminui riscos de infecção e ajuda pessoas que tem problemas em compartilhar emoções. O abraço diminui a ansiedade e alivia a dor."

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