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    Moradores de rua morrem em SP e Curitiba após onda de frio

    PAULO GOMES
    DE SÃO PAULO
    ESTELITA CARAZZAI
    DE CURITIBA

    19/07/2017 01h30 - Atualizado às 15h22

    Entre a tarde desta terça-feira (18) e a madrugada de quarta (19), dois moradores de rua morreram em São Paulo e Curitiba (PR). A principal suspeita é de que a dupla não resistiu ao frio.

    Às 16h30 desta terça, quando a capital paulista registrou a tarde mais fria do ano, a Polícia Militar recolheu o corpo do desabrigado no cruzamento da rua Teodoro Sampaio com a avenida Doutor Arnaldo, na zona oeste da capital. Conforme a PM, não havia qualquer sinal de violência, um indicativo de que a morte pode ter sido em decorrência da baixa temperatura.

    Houve ainda, segundo o padre Julio Lancellotti, da Pastoral de Rua, uma segunda morte nesta terça nas mesmas circunstâncias e na mesma região, em frente à Faculdade de Medicina da USP. Esta, sem confirmação da PM até a publicação deste texto.

    "É aquela história, no o IML vai dar ataque cardíaco ou tuberculose, porque hipotermia não é patologia. Não se morre de frio", diz, em tom irônico, citando artigo publicado na Folha durante a onda de frio do ano passado, sobre mortes por hipotermia (drástica redução da temperatura corporal).

    Em 2016, ao menos seis moradores de rua morreram no período de frio entre junho e julho. Neste ano, há pelo menos mais uma morte sob suspeita de ter sido causada pelo frio, em 10 de junho.

    Em meio às baixas temperaturas deste início de semana, a procura em abrigos da prefeitura aumentou. Segundo o padre, a operação de emergência da administração municipal ainda não atende toda a demanda. "Acabei de entregar um na Missão Belém com sinais de hipotermia", disse à reportagem, por volta da meia-noite desta quarta-feira (18).

    "Encontrei outro na praça da Armênia que não queria se movimentar, mas conseguimos aquecê-lo. Tem muita gente na rua. Passei embaixo do Minhocão, tem muita gente. Lá, na Armênia, na praça Marechal Deodoro, no parque da Mooca", afirma Lancelotti, que diz ter falado com o prefeito João Doria (PSDB) sobre o tema. O padre afirma ter feito pessoalmente um pedido ao tucano para que o decreto sobre a remoção de pertences dos moradores de rua seja obedecido. "O 'rapa' tem sido inclemente", diz.

    PREVISÃO DO TEMPO EM SÃO PAULO

    AÇÃO EMERGENCIAL EM SP

    A gestão Doria (PSDB) lamentou, por meio de nota, a morte do morador em situação de rua na capital e informou que aguarda laudo do Instituto Médico Legal que atestará a causa da morte.

    Nos dias de baixas temperaturas, segundo a prefeitura, estará em operação o PEI (Programa Emergencial de Inverno), com atuação de equipes de várias secretarias.

    "Após a inauguração do PEI, eu e três secretários –o secretário de assistência e desenvolvimento social, a secretária de direitos humanos e cidadania, e o secretário Claudio Carvalho [Investimento Social]–vamos fazer a distribuição de mais de mil cobertores para pessoas em situação de rua e também de meias, independentemente do acolhimento dessas pessoas", disse o prefeito João Doria.

    A primeira unidade de acolhimento do PEI será inaugurada nesta quarta (19), na rua Comendador Nestor Pereira, no Canindé (zona norte). A previsão é de que a unidade, sob administração da Igreja Adventista, atenda até 460 pessoas, das 19h às 8h.

    No local, além do acolhimento, os beneficiados também terão acesso a banheiros equipados com chuveiros com água quente, vasos sanitários, e local para refeições (jantar e café da manhã), seguindo o modelo das unidades do Atende (Atendimento Diário Emergencial), implantadas na região da Luz (centro).

    A rede ainda dispõe de 10 mil vagas fixas, 1.400 vagas criadas exclusivamente para a operação Baixas Temperaturas, além de cerca de 400 vagas nos Centros Temporários de Acolhimento, que totalizam 11,8 mil vagas.

    Ainda segundo a prefeitura, serão realizadas ações para a distribuição de cobertores, roupas e alimentos.

    CURITIBA

    Em Curitiba -que registrou a noite mais fria do ano, com -1,3°C-, um morador de rua morreu nesta madrugada (19), na praça Tiradentes, centro da cidade.

    Segundo o prefeito Rafael Greca (PMN), a vítima recusou acolhimento das equipes de assistência social horas antes, "por estar fortemente drogada e alcoolizada".

    Adilson José Juk, 41, já havia sido internado por dependência química e sofreu convulsões nos últimos dias, de acordo com a prefeitura. A Fundação de Ação Social informou que ele tinha cobertores e estava bem agasalhado. O laudo que identifica a causa da morte será emitido pelo IML (Instituto Médico-Legal).

    A Prefeitura de Curitiba disse ter realizado 59 acolhimentos nesta madrugada -mas outras 58 pessoas recusaram atendimento.

    "Não queremos perder ninguém por abandono, mas as forças do mal insistem no 'direito' de permanecer na rua", declarou Greca, nas redes sociais, criticando o que chamou de "ideologia perversa".

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