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Favela Coliseu, que fica atrás de prédios de luxo na Vila Olímpia, em SP |
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Cotidiano
Monday, 06-May-2024 00:35:33 -03Moradores de favela na Vila Olímpia, em SP, aguardam moradias há 22 anos
THIAGO AMÂNCIO
DE SÃO PAULO24/07/2017 02h00
Para entrar na casa da aposentada Zeli Francisca Miguel é preciso agachar-se para subir uma apertada e não muito firme escada de madeira, que dá acesso ao imóvel, onde seis pessoas dividem dois cômodos, na Vila Olímpia, bairro nobre de São Paulo.
A casa fica na favela Coliseu, na rua de mesmo nome, em meio a torres de mais de 40 andares, shoppings de luxo e sedes de multinacionais.
O barraco foi construído sobre outra casa. O chão é feito de tábuas de madeira que afundam a cada passo mais decidido. Ela já caiu e ficou com a perna presa depois que uma dessas tábuas cedeu.
"Eu penso em arrumar, abrir um crediário e construir uma casa de tijolo. Mas e se tiver que sair depois? Não posso gastar esse dinheiro à toa", diz ela, que entrega jornais e ganhou a vida como faxineira dos prédios vizinhos.
A preocupação não é à toa. A Prefeitura de São Paulo apresentou, no fim de junho, o projeto dos prédios que serão construídos no lugar da favela. Serão três torres de 13 andares com 274 apartamentos no total, com sala, cozinha, dois quartos, banheiro e varanda para os atuais moradores da comunidade.
"A gente optou pelo adensamento para atender a totalidade das famílias num mesmo local. Se nós fizéssemos prédio mais baixo, sem elevador, que é um padrão que a prefeitura utiliza normalmente, nós não teríamos condição de recepcionar todas as famílias", explicou, à Folha, o secretário municipal de Habitação, Fernando Chucre.
NOVELA
Não é a primeira vez que os moradores ouvem promessas de que terão moradia digna. A lei que instituiu a operação urbana já previa a construção desses prédios há 22 anos.
Eles serão construídos com recursos da Operação Urbana Faria Lima, processo de reforma da infraestrutura da região iniciado em 1995, quando o prefeito da cidade ainda era Paulo Maluf.
Em 2012, a gestão Gilberto Kassab (PSD) anunciou a construção de um conjunto habitacional da Cohab, que deveria ficar pronto em três anos e seria tocado pela gestão Fernando Haddad (PT). O petista, por sua vez, liberou R$ 40 milhões para a obra em 2014 e desapropriou o terreno de 3.930 m² por R$ 18 milhões.
Embora não estivesse dentro do prazo prometido, o projeto já estava avançado no fim do ano passado quando foi barrado pela Eletropaulo por problemas na infraestrutura elétrica -previa a derrubada de um poste que distribui energia para a região.
Agora, pelo cronograma da gestão Doria, a licitação da obra começa em novembro e as famílias serão removidas em maio de 2018, quando se inicia a construção dos prédios -que devem ser concluídos até novembro de 2019.
"A gente propôs que, pela região muito valorizada, deveria ser permitido um adensamento maior, mas a própria comunidade disse 'pelo amor de Deus, passa do jeito que está, a gente não aguenta mais'", diz Guido Otero, do Instituto de Arquitetos do Brasil, membro do grupo de gestão da Operação Urbana Faria Lima.
A construção dos prédios ainda servirá para liberar os cofres da operação urbana, que conta com R$ 513 milhões em caixa (segundo balanço de maio). O fundo vem de um valor pago pelas construtoras para poderem erguer prédios na região, e a prefeitura só pode usar esse recurso na urbanização daquele território -além de moradia social, a operação urbana investiu no alargamento de vias e na revitalização do largo da Batata, entre outros projetos.
TÍTULO DE POSSE
A favela tem mais de 60 anos e acompanhou a transformação da Vila Olímpia de uma região de chácaras para um bairro residencial e agora em um importante centro financeiro da cidade.
Ali, vivem 200 famílias, muitas em barracos de madeira em situação precária -outras 70 já foram removidas por viverem em situação de risco e recebem auxílio-aluguel de cerca de R$ 500.
Foi onde nasceu Rosana Maria dos Santos, 47, filha das primeiras famílias que habitaram a região há 60 anos. "Ninguém queria morar aqui, porque era uma área que tinha mato. Queriam morar do Itaim Bibi pra cima."
Quando a região se tornou supervalorizada, a partir dos anos 1990, começou o assédio de corretores de imóveis, diz ela. Foi aí que Rosana ganhou protagonismo na região: "Veio um pessoal querendo tirar a comunidade há 23 anos. E eu fiquei sabendo que no centro da cidade tinha um lugar que tinha advogado de graça", diz. Era a Defensoria Pública. Na Justiça, conseguiram o título de posse da área.
Nos anos 2000, ela criou o jornal "A Voz do Coliseu", onde, além de noticiar fatos relevantes para a comunidade, divulgava números de telefone da Corregedoria da PM e do Conselho Tutelar e publicava listas de direitos dos moradores, para coibir eventuais abusos do poder público.
A construção da megaloja de luxo Daslu foi um marco na favela. Se no início houve um estranhamento entre os vizinhos de perfil tão diferente, a companhia depois firmou parcerias com a comunidade, a ponto de Eliane Tranchesi, dona da grife, morta em 2012, se dizer amiga de Rosana.
A relação com os empresários ao redor "não é ruim", define a líder comunitária. "Eles não nos incomodam e nós não incomodamos eles", define. As empresas ajudam a bancar os projetos da sede da favela, que fornece cursos de capacitação e aulas de reforço aos moradores. A maior parte trabalha e estuda na região.
Hoje, Rosana e os moradores vivem na esperança de conseguir um teto e um chão firmes, mas não estão seguros de que a nova proposta vá vingar. "Sempre acho que vai, mas desta vez não sei ainda."
Favela Coliseu, Vila Olímpia, São Paulo
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CRONOLOGIA
Anos 1950
Primeiros moradores, nordestinos, ocupam a regiãoAnos 1990
Casas do bairro começam a dar lugar a arranha-céus1995
Prefeito Paulo Maluf (PP) cria a Operação Urbana Faria Lima2012
Gestão Gilberto Kassab (PSD) prevê construção de moradias populares da Cohab em até três anos2014
Gestão Haddad libera R$ 40 milhões para construção de prédiosJun.2017
Novo projeto é apresentado pela gestão Doria (PSDB)Mai.2018
Previsão para remoção de famílias e começo das obrasNov.2019
Previsão para conclusão das obras-
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