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    Rio de Janeiro

    Processos contra policiais e bombeiros militares disparam no Estado do Rio

    LUCAS VETTORAZZO
    LUIZA FRANCO
    DO RIO

    25/07/2017 02h00

    José Lucena - 20.nov.16/Futura Press/Folhapress
    PM durante ocupação de Cidade de Deus, no Rio; processos contra policiais disparam no Estado
    PM durante ocupação de Cidade de Deus, no Rio; processos contra policiais disparam no Estado

    A Auditoria da Justiça Militar do Rio, órgão ligado ao Tribunal de Justiça do Estado, abriu 149 processos contra policiais e bombeiros militares por crimes como corrupção, extorsão e roubo neste ano. O volume, alcançado em abril, já é igual ao registrado ao longo de todo o ano passado.

    Em casos como corrupção passiva, extorsão e roubo, os valores apurados nos primeiros quatros meses de 2017 já superam os de 2016.

    Segundo levantamento do TJ-RJ, os processos abertos são relativos à prática da seis tipos de crimes: corrupção ativa, corrupção passiva, extorsão, extorsão mediante sequestro, roubo e roubo qualificado.

    A grave crise fiscal que o Rio enfrenta tem gerado também o caos na segurança pública do Estado. O governo luta para pagar salários enquanto os índices de violência atingem patamares de quase uma década atrás. Até domingo (23), 91 PMs já tinham morrido no Estado.

    Policiais estão sem receber o 13º salário de 2016 e sem horas extras por trabalho fora do regime de serviço. Há falta de equipamentos, como coletes, armas e munição, além de ser comum faltar gasolina para os veículos.

    Criminosos aproveitam para expandir territórios, o roubo de cargas é frequente e surgem cada vez mais casos de corrupção policial.

    CRIMES POLICIAIS NO RIO - Casos de corrupção policial até abril de 2017 já ultrapassam total de 2016

    No final de junho, 66 policiais de um batalhão em São Gonçalo, região metropolitana, foram presos sob suspeita de integrar quadrilha de venda de armas e prestação de serviço de segurança para traficantes. A investigação mostrou que PMs chegaram a "assaltar" uma boca de fumo e assumir a venda de drogas.

    Parentes de militares ouvidos pela reportagem relatam que têm surgido casos de corrupção entre policiais até então honestos em razão da piora das condições de trabalho.

    Sob condição de anonimato, dizem que em algumas UPPs da zona norte, policiais estão tendo que negociar com o tráfico para garantir a própria vida, por estarem em desvantagem. Aceitam propina porque, sem coletes, armamentos e carros, não faria sentido "trocar tiro com bandido", disse a mulher de um PM.

    Segundo especialistas ouvidos pela Folha, no entanto, a precária situação da segurança pública não é, por si só, motivo para o aumento de processos por corrupção.

    Segundo o ex-capitão do Bope e consultor em segurança Paulo Storani, a má condição de trabalho policial é uma realidade há décadas no país. O aumento recente ocorreria em razão da maior apuração dos casos, tese encampada também pelos ex-comandantes gerais da PM Ubiratan Ângelo e Mário Sergio Duarte.

    Na visão do sociólogo Ignacio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj (Universidade do Estado do Rio), a alta, nessa intensidade, não poderia ser explicada por uma mudança súbita na realidade policial, mas pelo incremento dos mecanismos de controle.

    Ele, porém, acredita que a crise seja um dos ingredientes que levam ao momento que o Rio se encontra. "Acredito que tenha algum impacto na corrupção, mas não tão súbito nem tão intenso", disse.

    Assim como Cano, o promotor da Auditoria Militar junto ao Tribunal de Justiça, Paulo Roberto Cunha, responsável por denunciar PMs e bombeiros à Justiça estadual, diz que uma reunião de fatores leva ao aumento. Entre eles, justamente o enfraquecimento dos mecanismos de controle.

    Ele cita que em 2015, por exemplo, a Policia Militar reduziu a quantidade de homens na Corregedoria. No ano seguinte, o número de inquéritos abertos contra militares, que girava em torno de 3.000 em 2013, foi para 4.000.

    "Não dá para dizer que os casos aumentaram somente em função da crise, embora ela tenha sua parcela de responsabilidade nisso tudo. O cenário vai além das questões de condições de trabalho e aumento da violência em geral."

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