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    'Favela do Playcenter' avança em área cobiçada pelo mercado imobiliário

    ANTONIO MAMMI
    JAIRO MARQUES
    DE SÃO PAULO

    28/07/2017 02h00

    Karime Xavier/Folhapress
    Favela do Playcenter', que avança sobre área vizinha ao antigo parque de diversões em SP
    'Favela do Playcenter', que avança sobre área vizinha ao antigo parque de diversões em SP

    Uma cobiçada área de avanço imobiliário da cidade, a Barra Funda, zona oeste de São Paulo, nas proximidades da ponte do Limão, já abriga também a expansão de ocupações irregulares.

    A "favela do Playcenter", chamada informalmente assim por estar vizinha à área do antigo parque, conta atualmente com cerca de 200 barracos e não para de crescer, provocando reações de moradores e empresários da área, que estão descontentes com a situação.

    As construções de madeira já tomam quase toda a extensão da rua Rubens Porta Nova e se aproximam de uma área de preservação ambiental, ao lado da marginal Tietê. Donos de terrenos ali estão colocando segurança privada para intimidar novas invasões e transtornos.

    Antigos barrações desocupados que ficam na região reforçaram muros com arame farpado e grades. Um abaixo-assinado pedindo providências do poder público contra a ocupação está em circulação pelo bairro.

    Para o advogado Alexandre Alves, síndico de um dos novos condomínios da região, a ocupação ilegal preocupa moradores por questões de segurança e por possível desvalorização dos imóveis, que são todos de alto padrão naquela região.

    Editoria de Arte/Folhapress

    "Os moradores temem aumento da violência na região e dificuldades futuras caso queiram vender seus apartamentos. Estamos conversando com outros condomínios e com empresas da área para tentarmos fazer uma ação conjunta", diz o síndico.

    Com uma instalação imediatamente ao lado do terreno onde cresce a favela, a empresa de transportes Reunidas Paulista, por meio de sua procuradora Vivian de Castilho Barduci, afirma que cobra providências contra a ocupação irregular há um ano, mas sem resposta.

    "O resultado da morosidade da prefeitura resultou no crescimento desordenado dos barracos", alega a procuradora, que informou ainda já ter havido um grande incêndio no local e que, atualmente, furtos de tacógrafos na garagem da empresa estão sendo registrados.

    "Trata-se de algo extremamente crítico, tanto para os moradores da favela tanto aos moradores ao redor que estão à mercê dos perigos. Ainda há risco de novos incêndios no local", declara Vivian.

    A prefeitura informou que "a prefeitura regional da Lapa intimou os integrantes da ocupação irregular para desocupação da área."

    De acordo com a gestão Doria, vão ser adotados "os procedimentos jurídicos necessários para evitar que novas moradias sejam erguidas."

    Segundo comerciantes da região, esta é a terceira comunidade que se instala no local desde o fechamento do Playcenter em 2012.

    Karime Xavier/Folhapress
    Favela do Playcenter', que avança sobre área vizinha ao antigo parque de diversões em SP
    'Favela do Playcenter', que avança sobre área vizinha ao antigo parque de diversões em SP

    FAMÍLIAS

    Kátia Gilmara de Oliveira, 35, e Rosemira Ribeiro, 51, foram as primeiras a levantarem seus barracos na viela, em abril do ano passado, e assumiram a função de coordenadoras da comunidade.

    Kátia, que vive de bicos, se mudou para o local com os cinco filhos depois de ser despejada de um apartamento no Limão (zona norte), cujo aluguel era de R$ 400.

    O último teto de Rosemira também era nesse bairro: um barraco que pegou fogo, em 2016 –entre o incêndio e a mudança para o atual endereço, ela viveu numa praça.

    As duas estimam que a comunidade já abrigue 200 famílias. Lá funcionam três comércios e, na esquina com a avenida Marquês de São Vicente, existe até um sobrado de madeira que exibia uma placa de "aluga-se".

    "Sabemos do abaixo-assinado do pessoal dos prédios. Mas falam lá do alto e nunca vieram aqui", diz Rosemira.

    Kátia reforça o argumento da vizinha, apontando para as tábuas de madeira que servem de portas das habitações. "Olha aí: são 11h e os barracos estão vazios e trancados a cadeado. A maioria dos moradores trabalha".

    Elas não querem ficar ali, mas dizem não ter opção. Quando chove, o córrego que ladeia a ocupação transborda e invade os barracos. As áreas de proteção, segundo os moradores, trazem ratos, pernilongos e aranhas.

    Um homem levou um pote de vidro com um escorpião vivo para mostrar à reportagem. "Acordei com ele em cima da cama", diz.

    "A gente só quer moradia digna. Mas se não for isso, é rua" diz Rosemira.

    Segundo a prefeitura, "as famílias podem procurar os serviços da rede socioassistencial da região para atendimento emergencial".

    Como se trata de "ocupação recente", de acordo com a Secretaria Municipal de Habitação, "as famílias não se enquadram no atendimento habitacional provisório".

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