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    'Pensei até em morte', diz soldado preso em greve de policiais no ES

    LUCAS REZENDE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE VITÓRIA

    28/07/2017 12h00

    "Tudo de pior que se possa imaginar nós passamos nestes 117 dias de prisão. Foi um momento surreal. Pensei até em morte". Foi com essas palavras que o soldado Caio Gumiero de Oliveira e outros quatro militares deixaram a prisão do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, em Vitória (ES), na noite da última terça-feira (25).

    O grupo estava preso desde fevereiro por sua atuação durante a greve da PM no Estado, no início do ano. Eles respondem a uma série de acusações, entre elas ameaça, coação e desacato a superior. Além de Oliveira, também estavam detidos os soldados Marcos Israel Ferreira da Silva, Marcos José Seidel Mathias, Heryson Andrade Ladislau Silva e Fernando Januário Cristo.

    O juiz que cuida dos casos autorizou que eles respondam os processos em liberdade e os militares estão livres para voltar ao serviço.

    Em 25 de fevereiro, os cinco soldados interferiram em uma ação da Corregedoria da PM para prender o capitão Lucínio Castelo de Assumção, ex-deputado federal e apontado como um dos líderes da greve. Com isso, Assumção conseguiu fugir, mas se entregou três dias depois —ele é o único que segue preso.

    "A situação ocorrida no dia 25 foi uma situação atípica e temos plena convicção que foi excessiva, sendo que com um bom diálogo e um tom de camaradagem teríamos outro desfecho", diz Oliveira.

    A ação foi o ápice dos 21 dias de greve dos militares, que começou quando os policiais e o governo não entraram em acordo para um reajuste dos salários. Durante a paralisação, pelos menos 199 pessoas morreram no Espírito Santo, conforme levantamento do Sindicato de Policiais Civis do Espírito Santo.

    SIMBÓLICO

    Para Oliveira, a prisão dele e dos colegas prejudicou toda a PM. "A humilhação não foi só da parte da gente, e sim da Policia Militar como um todo. Nossa prisão representou uma grande injustiça contra a tropa. É complicado os familiares chegando de manhã e depois do tempo de visita seu pai e sua mãe irem embora com lágrimas nos olhos, sem ter certeza de quando seus filhos vão sair", diz.

    Segundo Valdenir Junior, advogado da Associação de Cabos e Soldados do Espírito Santo, eles são acusados em um processo penal militar e podem ser expulsos da corporação. "Eles estão soltos porque entendeu-se que a liberdade deles não se atenta à resolução do processo", explicou.

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    Para o advogado, as prisões foram simbólicas. "Foi uma forma de resposta do governo para a tropa, sem dúvida. Segundo os fundamentos dos autos, eles precisavam ser presos para preservação de hierarquia de disciplina. Isso é uma falácia".

    Associações que representam os militares concordam com a tese de que os soldados foram presos como forma de recado para o restante da tropa. "Não há como garantir, mas nem descartar, uma nova paralisação", disse o tenente-coronel Rogério Fernandes Lima, presidente da Assomes (Associação dos Oficiais Militares do Estado).

    Os militares reclamam, dentre muitas demandas, da mudança na legislação de praças e oficias, dos processos administrativos contra policiais e da extinção do Batalhão de Missões Especiais.

    A Secretaria de Segurança Pública do Espírito Santo disse em nota que desde o fim da greve "vem trabalhando para retomar a estabilidade da segurança dos capixabas, atuando em parceira com as polícias Civil e Militar" e que mantém canal aberto de diálogo com os representantes dos militares.

    Afirma ainda que tem feito investimentos em "regiões estratégicas" do Estado e que comprou 247 novas viaturas para a PM.

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