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    Aposentado morre com tiro acidental no peito no ABC; família acusa PM

    LUÍS ADORNO
    DO UOL

    28/07/2017 19h52 - Atualizado às 22h49

    Angelo da Conceição, um aposentado de 70 anos, foi morto com um tiro no peito na manhã de quinta-feira (27), em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, enquanto caminhava em direção a uma feira. Familiares acusam um policial militar de ser o autor do disparo. Segundo versão dos PMs, o tiro teria sido disparado por um bandido durante uma perseguição. A Corregedoria da Polícia deverá apurar o caso.

    A bala que atingiu o idoso é de calibre.40, utilizada por policiais militares. A família conversou com testemunhas, que acusam os policiais de terem mudado a cena do crime. Todas afirmaram que o criminoso perseguido pela polícia no momento do disparo estava desarmado.

    Arquivo Pessoal
    ABC: Aposentado morre com tiro acidental no peito; família acusa PM pelo disparo
    O aposentado Angelo da Conceição, que morreu com tiro acidental no peito; família acusa PM

    Segundo a versão apresentada pelos PMs no 6º DP de São Bernardo, eles tinham recebido denúncias anônimas e estavam atrás de um procurado pela Justiça que estaria traficando drogas e roubando pessoas pelo bairro à mão armada.

    No bairro Areião, na periferia de São Bernardo, os PMs afirmam que encontraram um indivíduo com as mesmas características entrando pelo portão de uma casa, próximo a um campo de futebol.

    Ainda segundo os policiais, eles bateram na porta e foram atendidos por uma mulher. Ao mesmo tempo, ouviram o barulho de uma janela sendo quebrada. Nisso, entraram na casa vizinha e afirmam ter visto, através de uma outra janela, o suspeito correndo.

    Os policiais abordaram a mulher do suspeito. Dentro da casa, foram localizadas drogas no quarto do casal e anotações de contabilidade na geladeira da cozinha, ainda segundo a versão apresentada pelos PMs.

    A mulher, então, teria indicado o local onde os policiais poderiam procurar o marido. Ao encontrá-lo, houve perseguição, segundo os PMs. Em dado momento, enquanto a perseguição ocorria a pé, o traficante teria atirado duas vezes contra um policial, que retrucou com um tiro, no peito.

    Depois de disparar a primeira vez, o policial afirmou não ter visto mais o suspeito, que teria fugido. Foi nesse momento, segundo a família, que o policial, em um erro, atingiu o peito do aposentado.

    "Todo mundo que tava na rua, que viu, o rapaz não tava armado. O policial atirou. O rapaz passou pelo meu tio bem no momento que o policial atirou. O PM, de início, ficou desesperado", afirmou ao UOL o sobrinho de Conceição, Josuel Rodrigues, 27, analista de sistemas. "Estava com vida, respirando e conversando. Passou até o contato da minha tia", complementou Rodrigues.

    Conceição foi socorrido ao pronto-socorro, mas não resistiu aos ferimentos. O aposentado, que trabalhou a vida inteira como pedreiro, deixa uma mulher, de 78 anos, e uma filha, de 45. Moravam os três juntos.

    No DP, os policiais apresentaram uma arma de fogo que seria do criminoso que trocou tiros com a polícia. À família, os PMs afirmaram, ainda na delegacia, que foi o criminoso que matou o aposentado.

    "Eu mesmo fui na rua e conversei com todo mundo lá. O moleque [suspeito] não estava armado. E quem achou a arma apresentada na delegacia foi outro policial, que nem estava lá. O que dá para entender é que foi a polícia. E, se foi, tem que ser punido", afirmou o sobrinho da vítima.

    INVESTIGAÇÕES

    O advogado Ariel de Castro Alves, do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), que acompanha a família, disse ao UOL que encaminhou o BO para a Ouvidoria das Polícias acompanhar o caso.

    "Precisa ser apurado pela Corregedoria da PM e pela Polícia Civil se o disparo que atingiu o idoso partiu das armas dos PMs", disse Alves. "E, se partiu das armas dos PMs, se agiram dolosamente, assumindo o risco de matar, ou culposamente, sem intenção, com imprudência ou imperícia", complementou.

    Para o advogado, os laudos do IML (Instituto Médico Legal) e do Instituto de Criminalística "serão fundamentais para elucidar a origem dos disparos".

    O ouvidor das polícias Julio Cesar Neves afirmou ao UOL que "a Ouvidoria está surpresa com versões tão distintas". "Vamos pedir apuração rigorosa nesse caso, não só da Corregedoria, como já estamos entrando no Ministério Público, para nomear um promotor para apurar o caso", disse.

    O corregedor da PM, Marcelino Fernandes, pediu para a reportagem entrar em contato com a assessoria de imprensa da corporação.

    Procurada, a SSP (Secretaria de Segurança Pública) afirmou que foi aberto um inquérito policial no 6º DP de São Bernardo para investiga o caso. A investigação está com diligências em andamento, as armas dos policiais foram apreendidas e encaminhadas a perícia, assim como uma arma encontrada no local, que seria de um procurado da Justiça.

    A Polícia Militar também instaurou inquérito policial militar no 6º BPM/M, batalhão da área, para investigar todas as circunstâncias do fato. A Corregedoria acompanha a apuração.

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