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    Instituto Nacional de Câncer defende taxação de bebidas açucaradas

    NATÁLIA CANCIAN
    DE BRASÍLIA

    04/08/2017 02h00 - Atualizado às 11h34

    Reuters
    Prateleira de supermercado chinês com refrigerantes; instituto brasileiro defende taxação sobre o produto
    Prateleira de supermercado chinês com refrigerantes; instituto brasileiro defende taxação sobre o produto

    O Inca (Instituto Nacional de Câncer), órgão do Ministério da Saúde, irá lançar nesta sexta (4) um documento inédito em que alerta para o maior risco de alguns tipos de câncer diante do avanço da obesidade no país e defende medidas mais duras para combater o problema.

    Entre elas, estão o aumento na taxação de bebidas açucaradas ou com adoçantes, como sucos de caixinha e refrigerantes, a restrição da publicidade de alimentos e bebidas não saudáveis dirigidos a crianças, a restrição da oferta destes produtos nas escolas, além da melhoria dos rótulos, com alertas sobre o alto teor de açúcar, gorduras e sódio.

    Essa é a primeira vez que o órgão, responsável no governo por ações de prevenção ao câncer, lança um posicionamento técnico em que apoia essas iniciativas, também recomendadas pela Organização Mundial de Saúde.

    "É o reconhecimento de que essas medidas, uma vez implementadas, não só enfrentam o problema do sobrepeso e obesidade, como também incidirão na prevenção do câncer", afirma a nutricionista Maria Eduarda Melo, responsável pela unidade técnica de alimentação, nutrição e câncer do Inca.

    Hoje, mais da metade da população brasileira está acima do peso, o que ocorre quando o IMC (índice de massa corporal, que é o peso dividido pela altura ao quadrado) é maior que 25 kg/m².

    Além disso, 18,9% dos brasileiros são obesos, índice que subiu 60% em dez anos, segundo dados do Vigitel.

    "E essa epidemia de obesidade não atinge apenas a população adulta, mas também as crianças. Nossa população está sendo cada vez de forma mais precoce exposta a esse fator de risco para o câncer."

    O documento, ao qual a Folha teve acesso, cita dados da OMS que mostram que cerca de 13 em cada 100 casos de câncer no Brasil são atribuídos a sobrepeso e obesidade.

    O risco aumenta se somado ao excesso de peso e outros fatores, como a alimentação inadequada, a falta de atividade física e o consumo de bebidas alcoólicas.

    Estudos mostram que esses fatores são responsáveis por 21% dos cânceres em mulheres e 22,4% em homens –o que representa uma estimativa de 126 mil novos casos de câncer neste ano no país.

    Segundo o Inca, o excesso de peso corporal está "fortemente associado" ao risco de desenvolver 13 tipos de câncer: esôfago, estômago, pâncreas, vesícula, fígado, intestino, rins, mama (em mulheres na pós-menopausa), ovário, endométrio, meningioma, tireoide e mieloma múltiplo.

    Também é possivelmente associado ao câncer de próstata (avançado), mama (homens) e linfoma difuso de grandes células B, tipo de câncer linfático.

    De acordo com Melo, além do alerta sobre a relação entre a obesidade e o risco de câncer, o posicionamento visa dar impulso para que as medidas recomendadas sejam de fato discutidas e implementadas no país.

    Hoje, parte dessas propostas, como a mudança e inclusão de alertas nos rótulos, já tem aval do Ministério da Saúde. Outras ainda se encontram em fase preliminar de estudo por alguns órgãos.

    É o caso do aumento na taxação de bebidas açucaradas, como refrigerantes. A indústria costuma rebater a medida, alegando que interfere na liberdade do consumidor.

    Segundo o Inca, o fato de incluir também as bebidas com adoçantes nessa proposta ocorre como forma de evitar que o consumo passe a ser direcionado a esses produtos.

    "Existem evidências novas que vêm demonstrando que os adoçantes podem promover ganho de peso", afirma a nutricionista. Outras medidas apoiadas pelo instituto, como a restrição da publicidade e do acesso a alimentos não saudáveis em escolas, visam evitar a escalada de obesidade infantil, afirma Melo.

    "Nossa proposta é chamar a sociedade para discutir isso, porque vai ter provavelmente um efeito na incidência do câncer", completa.

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