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    Tempo de espera lidera queixas de usuários de ônibus em São Paulo

    WILLIAM CARDOSO
    DO "AGORA"

    14/08/2017 02h00

    Gabriel Alves/Folhapress
    Fila no terminal Bandeira
    Passageiros aguardam ônibus no terminal Bandeira, no centro de São Paulo

    O tempo gasto esperando pelo ônibus foi a principal reclamação registrada por passageiros na SPTrans, sob a gestão de João Doria (PSDB), nos primeiros seis meses do ano na capital paulista. Entre 1º de janeiro e 19 de junho, foram 4.563 queixas por intervalo excessivo entre os coletivos, uma média de 27 por dia.

    Os números obtidos via Lei de Acesso à Informação, mostram o que os motoristas já sabem. O trânsito carregado na cidade impede o cumprimento de partidas, porque os ônibus chegam ao ponto final atrasados.

    O consultor em transporte público Marcos Bicalho afirma que não basta botar mais coletivos em circulação, enquanto não houver uma solução para dar mais agilidade ao tráfego. "Colocar mais ônibus na rua é só fazer com que fiquem parados no trânsito."

    Segundo Bicalho, a solução é reduzir o número de carros nas ruas, priorizando o transporte público. "O ônibus é mais prejudicado do que os carros, porque não pode mudar o itinerário", afirma. "O problema é que, cada vez que muda o prefeito, mudam-se as prioridades e as metas. A descontinuidade na política de transportes é muito ruim."

    Presidente do Sindmotoristas (Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano), José Valdevan de Jesus Santos, o Valdevan Noventa, diz que as empresas têm retirado ônibus antigos de circulação sem reposição, o que tem provocado diminuição da frota.

    "As empresas estão sem condição de fazer financiamento para compra de ônibus, que não são repostos. Isso prolonga o horário de partida e a população acaba prejudicada", diz.

    O segundo motivo de queixa dos passageiros foi o motorista não atender ao sinal de embarque e desembarque, representando uma em cada cinco reclamações registradas até 19 de junho.

    Entre as críticas feitas pelos canais de atendimento da prefeitura, consta até mesmo ameaça feita por cobrador ou motorista, com arma de fogo, aos passageiros. Foram seis casos.

    QUEIXAS CAEM

    O número de reclamações sobre os ônibus da capital tem diminuído ano a ano. Até 19 de junho deste ano, foram 17.346 queixas -número 70% menor que no mesmo período de 2013 (57.999). A queda mais acentuada nas reclamações ocorreu entre o primeiro e o segundo ano da gestão de Fernando Haddad (PT), quando o número de queixas caiu a 26.368 no período analisado.

    A linha 5630/10 (Terminal Grajaú/Metrô Brás) foi a que mais recebeu reclamações entre janeiro e 19 de junho. Foram 96 queixas registradas pela SPTrans contra ônibus que fazem esse trajeto entre o extremo da zona sul e a região central da capital.

    Somados, o descumprimento de partida no ponto final e inicial e o intervalo entre os ônibus representam quatro em cada dez reclamações feitas pelos passageiros dessa linha. "A grande dificuldade é no fim de semana. A gente sai às 14h do serviço e já cheguei a pegar o ônibus só às 15h", diz a ajudante-geral Janaína Maria Braga Silva Batista, 34 anos.

    A bancária Simone Andrade, 50, também reclama da demora. "Já teve uma vez que esperei mais de 30 minutos no ponto", afirma.

    Um dos cobradores que trabalha na linha diz que o trânsito é o grande problema aos finais de semana. "Fica muito trânsito perto do Mercadão e da rua 25 de Março. Para tudo."

    RESPOSTA

    O SPUrbanuss (Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de São Paulo) afirma que as empresas cumprem as ordens de serviço emitidas pela SPTrans, que estabelece os horários de atendimento, número de veículos em operação, itinerários e demais características operacionais. Eles também dizem que os ônibus mais antigos estão sendo substituídos por mais novos.

    Sobre a linha 5630/10 (Terminal Grajaú-Metrô Brás), o SPUrbanuss diz que a empresa operadora investe, de forma contínua, em treinamentos de qualidade e atendimento aos clientes. "Quando ocorre alguma reclamação, a empresa promove ações de reciclagem de seus colaboradores", afirma, em nota.

    O sindicato diz ainda que as informações da reportagem não diferenciam queixas de empresas concessionárias, associadas ao sindicato, de reclamações das empresas permissionárias. O sistema de transporte público tem cerca de 15.000 ônibus, sendo cerca de 9.000 das concessionárias e 6.000 das permissionárias.

    A SPTrans (empresa que gerencia o transporte municipal), sob a gestão João Doria (PSDB), afirma que o número total de reclamações recebidas caiu 22% entre 1º de janeiro e 19 de junho de 2017 na comparação com o mesmo período do ano passado. "Do mesmo modo, o número de reclamações por não atendimento a embarque e desembarque caiu 25% e o de queixas por intervalo excessivo na linha caiu 7,6%."

    A companhia informa que constatou desajustes na operação da linha 5630/10 (Terminal Grajaú/Metrô Brás) e autuou a empresa responsável para que medidas corretivas fossem tomadas. A empresa afirma que tem intensificado fiscalização 24 horas e que investe na requalificação dos motoristas. Segundo o órgão, além de vistorias habituais, haverá também auditorias periódicas nos setores de treinamento das empresas.

    Sobre congestionamentos, a reportagem questionou a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), mas a resposta veio por meio da SPTrans, que afirma incentivar o uso de transporte coletivo permitindo integração pelo Bilhete Único, operações de ônibus em faixas exclusivas ou preferenciais, melhoria da tecnologia veicular e mais informação sobre linhas.

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