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    Haddad ataca Doria e cita 'desmonte' em órgão de combate à corrupção

    ARTUR RODRIGUES
    DE SÃO PAULO

    18/08/2017 12h09 - Atualizado às 16h54

    Bruno Santos/ Folhapress
    O ex-prefeito de SP Fernando Haddad em lançamento de livro que critica a Lava Jato
    O ex-prefeito de SP Fernando Haddad em lançamento de livro que critica a Lava Jato

    O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) acusou, nesta sexta-feira (18), a gestão João Doria (PSDB) de estar desmontando a CGM (Controladoria Geral do Município).

    O ataque ocorreu após Doria demitir a controladora Laura Mendes Amando de Barros, uma servidora de carreira, para colocar um aliado no posto.

    Em um texto intitulado "O fim da Controladoria Geral do Município", Haddad afirma numa rede social que "estamos retrocedendo" e lembrou a criação do órgão em sua gestão (2013-2016).

    "Esse órgão está sendo desmontado. Num primeiro movimento, retiraram dele o status de secretaria diretamente ligada ao gabinete do prefeito. E, agora, demitem um quadro técnico para nomear um aliado, retirando-lhe a autonomia", escreveu Haddad.

    Este foi o maior ataque de Haddad à gestão João Doria. Até o momento, o ex-prefeito vinha mantendo uma postura mais diplomática, apenas respondendo às críticas da equipe de Doria à sua gestão.

    A crítica feita por Haddad, dessa vez sem ser provocado, ocorre no momento em que ele é visto como um plano B do PT, no caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ser impedido pela Justiça de concorrer à presidência em 2018.

    Doria reagiu às críticas de Haddad. "Quem é Fernando Haddad, do PT, para dizer que uma gestão do PSDB não quer combater a corrupção? O PT deu aula e curso de pós-graduação em corrupção no País durante 13 anos", afirmou.

    Em nota, a equipe tucana também afirmou que Haddad, "que seis meses antes de deixar o cargo tinha 48 % de rejeição, não pode se arvorar a ser o único a praticar a moralidade na gestão pública".

    Segundo a gestão Doria, "qualquer insinuação de que a substituição no comando do órgão vai acarretar prejuízo às investigações é infundada, além de um desrespeito ao controlador-geral Guilherme Mendes".

    INVESTIGAÇÃO

    A controladora demitida investigava um esquema no qual servidores cobravam propina para fazer vista grossa a propaganda irregular nas ruas da cidade. O secretário municipal de Justiça, Anderson Pomini, afirmou que a ideia é colocar membros que atendam "às diretrizes desta gestão". "Passado oito meses, a gestão entendeu por bem atualizar e incorporar membros da gestão a esta equipe [da controladoria]", disse.

    O escolhido para a chefia da Controladoria foi Guilherme Rodrigues Monteiro Mendes, que ocupava até então o cargo de ouvidor-geral do município. Antes disso, ele atuou por 12 anos na Secretaria de Controle Interno do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de São Paulo.

    REBAIXAMENTO

    Assim que assumiu a prefeitura, em janeiro, Doria rebaixou a Controladoria, que perdeu status de secretaria e passou a ser vinculada à pasta de Justiça. Com isso, o órgão que antes respondia apenas ao prefeito passou a ser subordinado a Pomini.

    A escolha de Laura para chefiar o órgão, no entanto, havia trazido à época um certo alívio aos funcionários concursados da pasta.

    Procuradora da prefeitura, ela estava na CGM desde sua criação, em 2013. Naquele ano, o órgão revelou um dos maiores esquemas criminosos da história recente da cidade, a máfia do ISS, em que fiscais do município cobravam propina em troca de descontos no imposto de obras de grandes empreendimentos.

    CIDADE LIMPA

    Atualmente, Laura investigava quadrilha de servidores que cobravam propina para fazer vistas grossas a anúncios irregulares de empreendimentos imobiliários e feirões de carros, burlando a Lei Cidade Limpa.

    Revelada pela rádio CBN, a chamada máfia da Cidade Limpa atingiu a pasta de Prefeituras Regionais. O então chefe de gabinete da prefeitura regional da Lapa (zona oeste), Leandro Benko, foi gravado durante suposta negociação de propina.

    Ele é irmão do secretário de Turismo do governo Geraldo Alckmin (PSDB), Laércio Benko (PHS). Leandro Benko pediu demissão e outros cinco servidores foram afastados pela gestão municipal. Quase duas dezenas de pessoas já haviam sido ouvidas na investigação do caso.

    Na Controladoria, o bastidor é de que o caso pode crescer, e a gestão Doria optou trocar Laura por alguém sobre o qual pudesse ter maior controle. Por isso, alguns funcionários da CGM estariam dispostos a colocar os cargos à disposição.

    A mudança também pegou mal dentro do Ministério Público do Estado, órgão que tem atuado em operações conjuntas com a Controladoria. Na visão de promotores, a troca da chefe do órgão indicaria a perda de sua autonomia.

    Em nota, a prefeitura afirma que "todos os processos e investigações abertos durante esse período terão continuidade, garantindo a independência da Controladoria conforme determina a legislação". A gestão também diz que "agradece os bons resultados obtidos por ela [Laura]".

    Laura voltará à Procuradoria. Em nota, diz estar "absolutamente tranquila" com seu trabalho. Como exemplo, citou que ações em sua gestão geraram R$ 6 milhões em economia ao município, entre outras medidas.

    EM FORTALEZA

    Em Fortaleza, onde participou de evento de líderes empresariais, o prefeito João Doria disse que a demissão de Laura Mendes de Barros não tem ligação com as investigações de suspeita de propina a funcionários da prefeitura para autorizar propagandas ilegais na cidade.

    "A mudança [saída de Barros] não tem nenhuma vinculação a isso, é uma troca normal comanda por nosso secretário da Justiça. Inclusive as investigações vão continuar, nós demitimos imediatamente todos os apontados, ou afastamos se concursados. A corrupção é um problema do Brasil, que se combate com gestão eficiente e estado menor", disse Doria.

    Colaborou Marcel Rizzo, em Fortaleza

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