Isabel Marques da Silva não era um nome muito mencionado na pequena Monteiro, no sertão paraibano. Não porque a dona do nome fosse impopular, mas porque foi seu peculiar apelido, Zabé da Loca, que a tornou conhecida.

Zabé vem da simplificação de Isabel e loca, da moradia nada convencional que ela teve por décadas: uma gruta.

Roceira, ela morava com a família em uma casa de taipa na serra do Tungão, até a estrutura ruir devido às chuvas no final da década de 1960.

Viúva e sem ter para onde ir, encontrou abrigo em uma espécie de caverna de pedras no meio da mata, e lá ficou com dois filhos e um sobrinho. Os meninos, já grandes na época, fizeram a parede de taipa que fechava o local, com direito a porta e janela.

Foi nesse local, que ela foi descoberta em 1995 tocando pífano, uma espécie de flauta que aprendeu a tocar ainda criança. Apesar de tímida, fez apresentações, gravou discos e ganhou prêmio de revelação em 2009. Sempre sorridente, retornava para sua gruta, mesmo para visitar.

Zabé dizia ter morado no local por 25 anos, mas a afilhada Josevane, que cuidou dela até o final, diz que foi mais. Ela conta que a madrinha passava períodos, na colheita de milho e algodão, mas sempre voltava, deixando a gruta só em 2001, quando ganhou uma casa do Incra.

No começo, Zabé recusou a nova residência, alternou períodos entre os dois endereços e depois aceitou ser apenas visitante da loca, hoje atração turística da cidade paraibana.

Mas foi na casa "nova" que ela morreu no dia 5, aos 93, após uma pneumonia. Deixa a afilhada, netos e bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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