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    Rio de Janeiro

    Operação no Rio prende 43 e deixa 26,9 mil sem aulas, recorde no ano

    DO RIO
    DO UOL

    21/08/2017 07h31 - Atualizado às 21h13

    Ao menos 43 pessoas foram presas nesta segunda-feira (21) em uma operação integrada das Forças Armadas e das polícias em sete comunidades da zona norte do Rio de Janeiro. Em razão dessa ação, 26.975 alunos ficaram sem aulas em 41 escolas, 11 creches e 12 Espaços de Desenvolvimento Infantil, segundo a Secretaria Municipal de Educação. O número é recorde no ano, superando a marca da última sexta (18), que foi de 19.423 alunos sem aula na cidade.

    O subsecretário de Comando e Controle da Secretaria de Segurança Pública, Rodrigo Alves, atribui o fechamento das escolas a criminosos que atuam na região e recebem os policiais a tiros em incursões nas comunidades. "Quem aterroriza a população são os criminosos, não a polícia", disse ele, sobre relatos de moradores que não puderam sair hoje de suas casas nas favelas.

    As unidades afetadas ficam no Complexo do Chapadão, Manguinhos/Benfica, Higienópolis, Maria da Graça, Rocha/Triagem, Jacaré/Jacarezinho, Complexo do Alemão, Del Castilho e Cachambi.

    Um dos detidos é o soldado do Exército Mateus Ferreira Lopes, 19, preso pela Decod (Delegacia de Combate às Drogas) em Niterói, na região metropolitana do Rio, suspeito de ter vazado informações para criminosos das comunidades onde a operação está sendo realizada. O soldado usou as redes sociais para alertar grupos e pessoas sobre a ação. Entretanto, por ser um soldado, seu grau de conhecimento era pequeno.

    Ele foi preso em cumprimento a um mandado de prisão temporária, que dura 30 dias, por associação ao tráfico. De acordo com o Comando Militar do Leste, divisão do Exército responsável pelo Rio de Janeiro, o suspeito estava sendo monitorado e acabou preso.

    O ministro da Defesa, Raul Jungman, afirmou que o vazamento foi "mínimo" diante do efetivo empregado.

    Ao todo, a operação desta segunda-feira envolveu mais de 6.000 homens –5.000 militares das Forças Armadas, que ajudam no cerco– posicionando-se no entorno das comunidades para dar apoio; 300 PMs; 600 policiais civis; 30 da Polícia Federal e 140 da Polícia Rodoviária Federal.

    A ação, que também conta com o apoio da Força Nacional de Segurança Pública e da Agência Brasileira de Inteligência, é realizada para cumprir ordens judiciais relacionadas ao tráfico de drogas, roubo de cargas e outras ações criminosas. O número total de mandados não foi divulgado. Até o final da manhã desta segunda, foram apreendidos sete armas, duas granadas, munições, quatro motos, rádios e "farta quantidade de drogas".

    Até as 17h30 desta segunda, foram apreendidas sete armas (seis pistolas e uma espingarda), duas granadas, munições, sete carros, 25 motos, rádios e "farta quantidade de drogas". No final do dia, a secretaria estadual de Segurança divulgou apreensão de 300 quilos de maconha, 10 quilos de cocaína e 1,5 quilo de haxixe.

    São alvo da ação as comunidades do Jacarezinho, Alemão, Manguinhos, Mandela, Bandeira Dois, Parque Arará, além do Condomínio Morar Carioca. O número de homens empregados na ação e a quantidade de mandados expedidos ainda não foram divulgados.

    A Polícia ainda não conseguiu deter todos os traficantes alvos da operação. Nenhum fuzil foi apreendido. A corporação atribui isso aos vazamentos. Desde a noite de domingo (20) circulam em redes sociais boatos sobre a operação.

    Diante da crise que o Estado enfrenta, o governo federal autorizou o uso das Forças Armadas para atuarem na segurança pública em todo o Estado. Equipes das Forças Armadas fazem o cerco em algumas das regiões onde acontece a ação integrada de hoje. Algumas ruas estão interditadas e os espaços aéreos são controlados para aeronaves civis. Não há interferência nas operações dos aeroportos.

    CONFRONTOS

    Desde que o atirador de elite da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) da Polícia Civil, Bruno Guimarães Buhler, foi morto, no último dia 11, os tiroteios se intensificaram na comunidade do Jacarezinho. Em dez dias de confronto entre policiais e traficantes, sete pessoas morreram.

    Durante toda a semana alunos de escolas na região tiveram as aulas suspensas por questões de segurança. Serviços na comunidade, como coleta de lixo, postos de saúde e transporte, foram afetados, e a rotina de tiroteios diários acabou por expulsar moradores do Jacarezinho.

    Quase cem policiais militares foram assassinados no Estado do Rio de Janeiro este ano. Em 2017, o Estado teve um PM morto a cada dois dias. O número inclui mortos em serviço (21), em folga (56) e aposentados (20), todas vítimas de ações violentas. Nesse ritmo, caminha em direção à assombrosa marca de 200 casos em um ano –o maior número foi atingido em 1994, quando morreram 227 policiais.

    O aumento da violência na capital fluminense é latente. No primeiro semestre deste ano, houve um aumento de 21% no número de mortes violentas, em comparação com o mesmo período do ano passado. Quando se separam as mortes violentas ocorridas após oposição a intervenção policial, indicador que sugere confronto, esse número sobe para 45%.

    ESCOLAS

    A onda de violência que atinge o Jacarezinho, na zona norte do Rio, fez com que a prefeitura anunciasse, na noite desta segunda, o fechamento de 15 escolas da região por tempo indeterminado. Outras 11 unidades do entorno do Jacarezinho e de Manguinhos terão mudança no horário de funcionamento.

    A Secretaria Municipal de Educação afirmou, em nota, que a decisão pelo fechamento foi tomada após uma reunião com 26 diretores de escolas das duas comunidades, onde também foi definida uma área de maior risco.

    A ideia é que uma equipe monitore diariamente a situação da área para decidir quando o funcionamento será normalizado. A mesma equipe de assessores também deverá definir um cronograma de reposição das aulas perdidas pelos alunos afetados. O número total de alunos afetados, no entanto, ainda não foi informado.

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    Veja as escolas que serão afetadas

    Fechadas por tempo indeterminado:
    - Creches municipais Tia Andreza, Marcília Catarina (Tia Mana), Comunidade do Jacarezinho e Geralda de Jesus;
    - Cieps Willy Brandt e Vinícius de Moraes;
    - Escolas municipais José Lins do Rego, Pernambuco, George Sumner, Estado da Guanabara, Oswaldo Cruz, Pace e Rio de Janeiro;
    - Espaços de Desenvolvimento Infantil Padre Nelson e Brício Filho.

    Com horário reduzido de funcionamento:
    - Escolas municipais Delfim Moreira, Marechal Bittencourt, Ema Negrão de Lima, Albino Souza Cruz e Professora Maria de Cerqueira;
    - Ciep Juscelino Kubitschek;
    - Creches municipais Manguinhos e Chico Bento;
    - Espaços de Desenvolvimento Infantil Doutor Domingos Arthur Machado Filho, Antônio Fernandes Figueira e Joaquim Venâncio.

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