Se Carlos Alberto tivesse completado a faculdade de direito, dificilmente o apelido que as irmãs lhe deram seria conhecido pelas pessoas de fora do seu círculo íntimo –afinal, no mundo conservador dos tribunais, não pegaria bem um advogado se apresentar como Doutor Nêgo.

Nascido em Irati (a 156 km de Curitiba), Nêgo se mudou para a capital paranaense para estudar as letras jurídicas. Sua vocação, no entanto, era mais ampla que os conhecimentos contidos nos códigos: expert em política, economia e esportes, ainda no segundo ano de curso chamou a atenção de um colega jornalista, que o levou para a redação da revista "Panorama". A identificação foi imediata –nem chegou a se formar.

Nêgo Pessoa marcou presença na mídia impressa e na tevê: do diário "Gazeta do Povo" à Rede Globo, foram muitos os veículos que abrigaram suas opiniões polêmicas –liberal ao estilo Roberto Campos, era crítico da esquerda.

Também era escritor. As madrugadas que passava em claro renderam oito livros de crônicas –fã de basquete, torcedor do Coritiba e do Fluminense, fez do esporte seu tema favorito. Seu último projeto, inacabado, era um livro de histórias do dia-a-dia curitibano.

É lembrado pelo amigo José Arapothy como alguém nada convencional: tinha uma coleção de cerca de 5.000 livros e, para cada assunto, citava um autor e o capítulo de referência. Também não tinha carro e não sabia dirigir.

Morreu no último dia 14, após um mês de luta contra um câncer de pulmão. Deixa o filho Alexandre e três irmãs.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

-

Veja os anúncios de mortes
Veja os anúncios de missas