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    Rio de Janeiro

    Escolas de samba fazem 'matinês' para driblar violência no Rio

    SÉRGIO RANGEL
    DO RIO

    23/08/2017 12h00

    O samba vai acabar mais cedo. Pelo menos na Portela e na Unidos da Tijuca. As duas escolas decidiram antecipar o horário das disputas dos sambas-enredo para o próximo Carnaval por causa da violência no Rio.

    Atual campeã, a Portela trocou até o dia. Antes, a disputa começava nas noites de sexta por volta das 23h e só terminava no dia seguinte. No domingo passado (20), a primeira eliminatória foi realizada num horário de "matinê". A festa começou às 17h e terminou pouco depois das 23h.

    "Quando cheguei em casa cedo, minha mulher nem acreditou. Mas a coisa está feia nas ruas. A própria ala dos compositores pediu a mudança e achei bastante razoável", justificou Luis Carlos Magalhães, presidente da Portela.

    O Rio sofre com a escalada da violência. No subúrbio, reduto das escolas de samba, as ruas ficam vazias mais cedo. O número de mortes violentas no Estado no primeiro semestre deste ano (3.457) cresceu 15% em relação ao mesmo período de 2016. Foi o pior primeiro semestre desde 2009.

    "Num período de menos de um ano, muita coisa mudou aqui. A troca de horário é reflexo da violência, disse o presidente da Portela, que é funcionário público e também sofre com a crise financeira do Estado.

    Daniel Marenco/Folhapress
    Membros da Unidos da Tijuca comemoram título do Carnaval 2014 na quadra da escola
    Membros da Unidos da Tijuca comemoram título do Carnaval 2014 na quadra da escola

    A Unidos da Tijuca adiantou também o início da escolha do samba. Na quinta (24), a escola do Morro do Borel faz o seu "happy hour" a partir das 18h. A disputa se encerra antes das 23h. "Antes, ficávamos até 3 horas da manhã, mas a situação mudou. As pessoas estão com receio de voltar pra casa tão tarde. Por isso, fizemos esse horário alternativo", explicou Fernando Horta, presidente da escola tijucana.

    Para atrair mais público, o dirigente decidiu também não cobrar ingresso. "A crise econômica está muito forte no Rio. Estamos tentando ajudar os competidores de todo jeito", acrescentou Horta. Nas disputas, os sambistas formam torcidas organizadas e são obrigados a pagar o ingresso de cada um. Na Tijuca, eles não terão mais esse gasto.

    A partir de novembro, com os sambas definidos, as escolas começam os ensaios, que viram a noite nas quadras. Algumas agremiações estudam mudar o horário dos ensaios também por causa da violência. "Na minha adolescência, o bacana era chegar na escola e contar que tinha visto o sol raiar na Mangueira durante o ensaio. Acho difícil isso acontecer este ano. Infelizmente, não sou nada otimista. Mas vamos ver o que acontece até lá", disse o presidente da Portela.

    Apu Gomes/AFP
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