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    Gregory Ryan (1950-2017)

    Mortes: Empresário obstinado, apresentou o McDonald's ao Brasil

    FILIPE OLIVEIRA
    DE SÃO PAULO

    23/08/2017 20h52

    Pisco Del Gaiso - 9.jan.1995/Folhapress
    Gregory Ryan, presidente do McDonald's do Brasil em São Paulo, em foto de 1992.
    Gregory Ryan (1950-2017)

    Em uma feira de franquias em Porto Alegre, em meados dos anos 80, Gregory Ryan passou o dia inteiro de pé, atendendo potenciais interessados em vender hambúrgueres do McDonald's.

    Depois do evento, o consultor Marcus Rizzo perguntou: por que perder tempo com gente sem condições de gerir uma loja da marca? Ryan retrucou: "No mínimo, vendi mil Big Macs hoje".

    Se o seu bom atendimento não lhe valera novos franqueados, argumentou, certamente garantiu novos clientes para as lanchonetes da rede que, ao lado do também americano Peter Rodenbeck, ajudou a introduzir no Brasil.

    O McDonald's chegou ao país no final da década de 70 e procurava executivos para se inserir no novo mercado.

    Ryan, que já vivia no país (ele se naturalizou brasileiro), conseguiu se associar à empreitada num lance revelador de sua personalidade, marcada pela obstinação pelo trabalho e pelo detalhismo.

    No processo seletivo, os candidatos receberam um questionário que deveria ser respondido em casa e remetido pelo correio. Em vez disso, Ryan se trancou no seu carro, um Corcel velho, preencheu o formulário e o entregou no mesmo dia, impressionando os avaliadores –o mesmo carro que o ajudou a entrar na empresa foi vendido depois, quando o americano precisava de capital para investir na empresa.

    Assim, o empresário tornou-se responsável pelas operações da empresa em São Paulo e na região Sul, enquanto Rodenbeck se encarregou do restante.

    O primeiro restaurante aberto por Ryan na capital paulista ficava no Jardins, na região central, no cruzamento entre a avenida Paulista e a alameda Joaquim Eugênio de Lima.

    Nos anos 90, Rodenbeck deixou o McDonald's e Ryan ficou responsável por unificar a marca em todo o país.

    Suely Guimarães, que atuou como gerente de marketing sob a gestão do americano, lembra do chefe como alguém com grande capacidade de compreender os funcionários. "Sabia o o nome de todos e demonstrava interesse genuíno por eles."

    A opinião é compartilhada por Selene Gaudio, que atuou no mesmo departamento durante as décadas de 80 e 90.

    "Ele era o McDonald's no Brasil. Mas entrava na loja na maior simplicidade e conhecia cada funcionário, cada menino e menina, pelo nome. Lembrava que a mãe de um estava doente e perguntava se ela tinha melhorado. Se caía um guardanapo no chão, se abaixava para pegar", lembra.

    E, quando alguém achava que a missão delegada por Ryan era muito difícil, a tática do empresário era infalível: "Ele punha a mão no ombro da gente e dizia, 'tenho certeza que você vai conseguir fazer isso com sucesso'. Depois, nunca mais perguntava se estava dando certo, pois tinha total confiança".

    MÃO NA MASSA

    Ryan era workaholic e obcecado por detalhes, daqueles que interrompiam o fim de semana para vistoriar uma loja e que sabia colocar a mão na massa e fazer toda a operação, conta Marcelo Cherto, com quem dividiu os assentos da diretoria da Associação Brasileira de Anunciantes.

    O consultor Marcus Rizzo afirma que ele soube absorver a cultura do fast food nos EUA e transpô-la para o Brasil com maestria, criando uma rede de várias lojas que atuavam a partir de processos bem definidos e buscando manter padrões de agilidade e qualidade –o que era novidade no mercado brasileiro.

    Em 1997, após inaugurar 217 lojas no país, o empresário vendeu sua participação no McDonald's para a matriz.

    A época, especulava-se que a transação girasse em torno de US$ 30 milhões. Ele detinha 16% das ações em uma das três empresas representantes do grupo no Brasil.

    Trocou o fast food pela hotelaria e se tornou sócio de Paul Sistare, um nome importante do setor, na rede Atlantica Hotels –que, no Brasil, opera bandeiras como Radisson, Sleep Inn, Comfort e Quality. Saiu do negócio em 2014, quando os controladores do grupo venderam sua participação para o fundo Quantum Strategic Partners, do megainvestidor George Soros.

    Morreu na última segunda-feira (21), aos 66 anos, após um ataque cardíaco. Deixa mulher, três filhos e uma neta.

    coluna.obituario@grupofolha.com.br

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