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    'É elitista', diz ouvidor da polícia sobre declaração de comandante da Rota

    PAULO GOMES
    DE SÃO PAULO

    24/08/2017 18h06 - Atualizado às 23h11

    O ouvidor das polícias de São Paulo, Julio Cesar Neves, classificou a declaração do novo comandante da Rota, Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, como elitista, infeliz e discriminatória.

    Os comentários são referentes às diferenças no modo de abordagem da Polícia Militar. O novo comandante da tropa de elite da PM disse, em entrevista ao UOL, empresa do Grupo Folha, que a abordagem a eventuais suspeitos em bairros nobres tem que ser diferente da abordagem em bairros periféricos.

    Procurado pela Folha, o ouvidor das polícias –responsável por ser o porta-voz da população em atos irregulares praticados pelas polícias Civil e Militar– disse que a afirmação "é anticonstitucional [em referência ao artigo 5º da Constituição, que diz que todos são iguais perante a lei], discriminatória e flagrantemente elitista". "Isso daí nós não podemos aceitar. O pessoal da periferia tem que ser tratado como o pessoal dos Jardins também é. Foi infeliz a declaração", afirmou Neves.

    Ao UOL, Araújo disse que "pessoas diferentes" tem que ter formas de abordagem diferentes. "É uma outra realidade", disse o comandante da Rota. "São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia] da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado."

    Para o advogado Ariel de Castro Alves, conselheiro do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), a declaração do comandante da Rota ajuda a legitimar a violência policial. "Há uma tendência de aumento da letalidade policial e essas declarações fortalecem esse sentimento de que eles tem uma espécie de licença para matar e ficar impunes", diz.

    Para Castro, a forma como o policial militar é treinado é semelhante a de um soldado que vai para a guerra. "Os inimigos, na concepção deles, são jovens pobres, negros, os que moram na periferia. Na prática ele confessa essa teoria. Os ricos são tratados de forma cordial e os pobres de uma forma violenta, como se fossem potenciais inimigos a serem abatidos", diz.

    Ainda segundo o advogado, a alternativa para mudar essa mentalidade e diminuir a violência policial seria a desmilitarização da PM.

    ⁠⁠⁠Procurada, a Polícia Militar disse respeitar as opiniões pessoais de seus integrantes, e afirmou que as ponderações do comandante "não interferem na doutrina institucional,  nem tampouco em seus procedimentos operacionais padrão".

    Marcio Komesu/UOL
    O novo comandante da Rota, tenente-coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araujo. Foto: Marcio Komesu/UOL ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    O novo comandante da Rota, tenente-coronel Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo
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