Entre uma aula e outra, a meninada joga futebol no pátio do colégio de padres. Furibundo, o diretor irrompe da sua sala, ordenando o fim da pelada e, como resposta, recebe um petardo rente à orelha.

Poderia ser uma cena cômica de algum filme de Vittorio de Sica, mas era apenas um dia qualquer no colégio Meninópolis, na zona sul de São Paulo. O diretor, o padre italiano Teodoro Negri, era um educador querido, mas severo. "Com ele, escreveu não leu, o pau comeu. Era disciplina, disciplina, disciplina", lembra o ex-aluno Felipe Lalinde.

O missionário barbudo chegou ao Brasil em 1959 para dar aulas no Meninópolis, mantido por seus conterrâneos do PIME (Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras). Em 1965, assumiu o comando da instituição –posto que ocupou até 1995.

Negri e seus colegas tiveram um papel importante no desenvolvimento do bairro paulistano do Brooklin Paulista. Além da escola, o PIME assumiu a Paróquia Sagrado Coração de Jesus e gerenciava a única sala de cinema da região.

Cerca de 60 mil alunos passaram pelo colégio durante o período em que Negri foi diretor (dentre eles, o tricampeão do mundo Roberto Rivellino e o cantor Fábio Júnior).

Apesar do temperamento disciplinador, o padre também tinha seu lado arteiro. Lalinde lembra de uma ocasião em que, após um retiro espiritual, os jovens foram recebidos de forma insólita pelo tutor. "Vê se tem cabimento, um padre tacando bombinhas na garotada."

Passou seus últimos dias na sede do PIME na Itália, em Ranccio di Lecco. Morreu no último dia 21, aos 91 anos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br

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